O cérebro e os Transtornos alimentares
Transtorno alimentar (TA) é um transtorno mental que se
define por padrão de comportamentos alimentares desviantes que afeta
negativamente a saúde física ou mental do indivíduo.São considerados como
patologias e descritos detalhadamente pelo CID 10, DSM IV e pela OMS. Incluem
transtorno de compulsão alimentar periódica em que as pessoas ingerem uma
grande quantidade de alimentos num curto período de tempo; anorexia nervosa, em
que as pessoas comem muito pouco e, portanto, têm um baixo peso corporal;
bulimia nervosa, em que as pessoas comem muito e, em seguida, tentam livrar-se
da comida; pica, em que as pessoas comem produtos não-alimentares; transtorno
de ruminação, em que as pessoas regurgitam o alimento; transtorno alimentar restritivo
em que as pessoas possuem falta de interesse por comida; e um grupo de outros
distúrbios alimentares específicos e outros distúrbios alimentares
não-específicos
Nos últimos anos o maior avanço na área do transtorno
alimentar veio do campo das neurociências, o que fizeram foi ajudar a quebrar
alguns dos mitos chaves que existem sobre Transtornos alimentares,
particularmente sobre a anorexia nervosa. Um dos primeiros mitos é que ela é uma
doença rara. A representação de anorexia nervosa severa é rara, representando
mais ou menos 0,5% da população, por outro lado existe pessoas de todos os
pesos e todos os tamanhos apresentando TA. Existe alguém que está abaixo do
peso, que pode ter anorexia nervosa; tem um grande número de pessoas com peso
normal, que podem ter bulimia nervosa; tem algumas pessoas acima do peso, que
podem ter o que se chama de transtorno de compulsão alimentar, sendo retratadas
em idades diferentes: jovens, meia idade, velhas, e a figura do homem sendo
observada cada vez mais no consultório. Ou seja, os transtornos alimentares não
discriminam. Dessa forma entende-se que essa não é uma doença rara.
Outro mito é que essa doença não é muito séria, os TA e,
novamente a anorexia nervosa especificamente, tem as maiores taxas de
mortalidade de todas as doenças psiquiátricas e é uma das poucas doenças
psiquiátricas das quais você pode morrer, desde as complicações físicas de
comer compulsivamente e purgar e estar abaixo do peso, e o estresse que isso
provoca. E outra maneira que as pessoas morrem devido aos transtornos
alimentares, e novamente a anorexia nervosa, é devido ao suicídio. Mais
pacientes com diagnóstico de anorexia nervosa vão se matar, do que pacientes
diagnosticados com depressão, isso nos dá um insight interessante sobre o mundo
horrível que é viver com transtornos alimentares. E, no entanto, a sociedade e
alguns profissionais, não levam essa doença muito a sério.
O problema das pessoas com anorexia, é a chamada alternância
cognitiva, uma vez que elas ficam fixadas em pequenos detalhes, e esses
pequenos detalhes são controle de peso, controle da forma, controle das
emoções, contar calorias. O que não se consegue fazer é trocar o foco, não
conseguem sair dos pequenos detalhes e dar um passo atrás.
Outra área na qual a neurociência tem sido muito útil para
ajudar a entender é a fascinante área da imagem corporal, foi escaneado alguns
cérebros, um estudo conduzido por Perminder Sachdev da Universidade de New
South Wales. O que fizeram foi fotografar o grupo controle e fotografar os
pacientes, os colocando em ressonância magnética e mostrando a eles a fotos de
si mesmos e as fotos dos outros, e tentaram medir a atividade na área viso
espacial. Quando o grupo controle olham fotos de si mesmos têm uma atividade na
parte de trás do cérebro, como é de esperar; quando eles olham para a dos
outros, tem a mesma atividade. Quando pacientes com TA olham para fotos de
outras pessoas, eles apresentam atividade similar à do grupo controle, quando
eles olham fotos de si mesmos, não acontece muito coisa na parte de trás do
cérebro. O que se pode dizer é que é uma situação muito difícil, porque não
consegue se criar uma imagem de como você é, quando se volta aos exames de
ressonância e olha o que acende em pacientes com TA olhando para imagem de si
mesmos, é a amígdala, que processa o medo, as funções do corpo amigdalóide ou
amígdala são muito variadas, refletindo também sua complexidade estrutural.
Lesões ou estimulações desta área com animais resultam em alterações do
comportamento alimentar (afagais, hiperfagias) ou da atividade das vísceras,
bastante semelhantes às que se obtêm com procedimentos idênticos feitos no
hipotálamo. A amígdala faz parte do chamado cérebro profundo, no qual primam as
emoções básicas, tais como a raiva ou o medo e também o instinto de
sobrevivência. Básicas, sem dúvida, para a evolução de qualquer espécie. A
amígdala, esta estrutura em forma de amêndoa, é própria de todos os vertebrados
e se localiza na profundidade dos lóbulos temporais, fazendo parte do sistema
límbico e processando tudo relacionado a nossas reações emocionais.
O processo que a amígdala acende pode ser replicado de
diversas maneiras, mostrando fotos ou cheiros de comida, em pessoas sem TA as
áreas de prazer iriam acender, mostrando fotos de salgadinhos traria memória de
feriados agradáveis na praia ou coisa do gênero, assim lembrança de sabores
iria acender. Para alguém com TA o medo acende. Então, de certa forma, duas
coisas acontecem, uma é quando se tem medo de algo, essa coisa parece maior do
que realmente é; outra coisa que
acontece quando se tem medo é que procura-se evitar, se a comida me deixa com
medo porque há um problema de ligação no seu cérebro, evita-se; se ver a si
mesmo como maior dar medo, a pessoa tentará solucionar o problema, existe esse
mito que a neurociência tenta quebrar, de que os TA são deliberados. A anorexia
nervosa é uma doença com origem cerebral.
Pensar em alguém que tem anorexia por vontade própria, é
como dizer para alguém com o diagnóstico de esquizofrenia: “pare de escolher
ter esse delírio sobre uma invasão alienígena, apenas pare com isso” não é uma
técnica terapêutica muito eficiente, no entanto, por anos o tratamento de
anorexia é: “apenas como.” As pessoas não são programadas para fazer algo que
eventualmente as levará a um sofrimento
e que aumenta o seu risco de cometer suicídio, as pessoas não são
programadas para não comer, mas meio que se culpa os pacientes com anorexia,
por algo que está se descobrindo que é uma patologia do cérebro. Não existe
pessoas que escolheram ser esquizofrênicas, e não há sentido em pensar que
temos pacientes que escolheram ter um transtorno alimentar.
Então, a neurociência tem sido muito importante, porque o
estigma é realmente falar dessa doença como algo das passarelas, isso mostra
que as pessoas não levam essa doença a sério.
A obesidade hipotalâmica (HyOb) pode ser definida como uma
complicação de extensas lesões hipotalâmicas que podem causar alterações metabólicas, como hiperfagia, hiperinsulinemia, prejuízo
da termogênese, além de desordens funcionais no sistema nervoso autônomo.
O hipotálamo é a região do encéfalo (diencéfalo) de
vertebrados relativamente pequenos, localizado sobre o tálamo, cuja função é
manter a homeostase, isto é, o equilíbrio das funções internas corporais em
ajustamento ao ambiente, principalmente por meio da coordenação entre o sistema
nervoso e o sistema endócrino.
O hipotálamo também produz dois hormônios, a ocitocina (OCT)
e o hormônio antidiurético (ADH) que são transportados para a neuro hipófise
onde são armazenados, além de liberar fatores que regulam a atividade da
adenoipófise.
Através de evidências clinicas e experimentais,
demonstrou-se que o Hipotálamo se relaciona com todas as funções e atividades
viscerais.
O Hipotálamo é o principal centro subcortical de regulação
de atividade simpática e parassimpática, exerce atividade sobre o metabolismo
de açúcares e gorduras, regula a temperatura corporal e o balanço hídrico.
O controle do balanço energético de animais e seres humanos
é realizado pelo sistema nervoso central (SNC) por meio de conexões
neuroendócrinas, em que hormônios periféricos circulantes, como a leptina e a
insulina, sinalizam neurônios especializados do hipotálamo sobre os estoques de
gordura do organismo e induzem respostas apropriadas para a manutenção da
estabilidade desses estoques..
A obesidade
hipotalâmica pode ser observada
especialmente em pacientes com craniofaringioma (CP), um tumor embrionário
localizado na região do hipotálamo/hipófise, que causa danos ao hipotálamo
devido ao próprio tumor e pelo tratamento (excisão cirúrgica e radioterapia). O
craniofaringioma é uma neoplasia de natureza benigna, pouco frequente,
responsável por 1% a 3% de todos os tumores intracranianos.
Outros fatores também podem fazer parte da etiologia da
obesidade hipotalâmica:
-Tumores: Craniofaringioma, epitelioma, angiosarcoma,
colesteatoma, pinealoma, greminoma, endotelioma, ependimoma, glioma,
meningioma, macroadenoma hipofisário, teratoma, metástases.
-Inflamação: Sarcoidose, tuberculose, aracnoidite,
histiocitose x, encefalite.
-Síndromes genéticas: Síndrome de Prader-Willi, síndrome de
Bardet-Biedl.
-Traumatismo craniano
-Neurocirurgia
-Radioterapia craniana
-Aneurisma cerebral
-Drogas psicotrópicas
O mecanismo proposto para a obesidade hipotalâmica tem sido
descrito como um desequilíbrio a ação de hormônios orexígenos e anorexígenos
decorrentes dos fatores acima mencionados, que levam à sinalização hipotalâmica
disfuncional da homeostase energética.
Embora alguns estudos tenham demonstrado que estratégias
terapêuticas não farmacológicas, como dieta e atividade física, estejam
associadas com melhora na composição corporal e retardo no ganho de peso, ainda
são necessários mais estudos para estabelecer a terapia nutricional mais
adequada para esses indivíduos.
Integrantes
Alda Letícia de Souza Andrade
Amauri plácido da Silva Neto
Beatriz dos Anjos Dias
Luamar da Silva Biquiba Guarani
Joquebede de Queiroz Santana
Roney da Silva Arrais
Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1
Referências
Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1
Referências
Insight Psicoterapias: O cérebro, a mente e os Transtornos Alimentares “Chris Thornton” Disponível em:
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=4L3USZLGI1Y&feature=youtu.be.> Acesso em: 27 fevereiro 2019.
Disponível em <https://amenteemaravilhosa.com.br/amigdala-sentinela-das-emocoes>/. Acesso em: 04 março 2019.
MACHADO, Angelo BM. Neuroanatomia Funcional. 2ª Edição, São Paulo. Editora Atheneu, 2004.
Disponível em <https://www.endocrino.org.br/causas-obvias-de-obesidade>. Acesso em 04 de março de 2019
Disponível em < https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/nutricao/controle-neuronal-da-fome-e-saciedade/32824> Acesso em 04 de março de 2019
ABI BASTOS, LCS Dér. Henri Wallon: psicologia e educação, 2000.
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