• Nó Górdio 2
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  • sábado, 9 de março de 2019

    Transtornos alimentares e as bases morfofisiológicas do sistema nervoso

    O cérebro e os Transtornos alimentares 


    Transtorno alimentar (TA) é um transtorno mental que se define por padrão de comportamentos alimentares desviantes que afeta negativamente a saúde física ou mental do indivíduo.São considerados como patologias e descritos detalhadamente pelo CID 10, DSM IV e pela OMS. Incluem transtorno de compulsão alimentar periódica em que as pessoas ingerem uma grande quantidade de alimentos num curto período de tempo; anorexia nervosa, em que as pessoas comem muito pouco e, portanto, têm um baixo peso corporal; bulimia nervosa, em que as pessoas comem muito e, em seguida, tentam livrar-se da comida; pica, em que as pessoas comem produtos não-alimentares; transtorno de ruminação, em que as pessoas regurgitam o alimento; transtorno alimentar restritivo em que as pessoas possuem falta de interesse por comida; e um grupo de outros distúrbios alimentares específicos e outros distúrbios alimentares não-específicos

    Nos últimos anos o maior avanço na área do transtorno alimentar veio do campo das neurociências, o que fizeram foi ajudar a quebrar alguns dos mitos chaves que existem sobre Transtornos alimentares, particularmente sobre a anorexia nervosa. Um dos primeiros mitos é que ela é uma doença rara. A representação de anorexia nervosa severa é rara, representando mais ou menos 0,5% da população, por outro lado existe pessoas de todos os pesos e todos os tamanhos apresentando TA. Existe alguém que está abaixo do peso, que pode ter anorexia nervosa; tem um grande número de pessoas com peso normal, que podem ter bulimia nervosa; tem algumas pessoas acima do peso, que podem ter o que se chama de transtorno de compulsão alimentar, sendo retratadas em idades diferentes: jovens, meia idade, velhas, e a figura do homem sendo observada cada vez mais no consultório. Ou seja, os transtornos alimentares não discriminam. Dessa forma entende-se que essa não é uma doença rara.
    Outro mito é que essa doença não é muito séria, os TA e, novamente a anorexia nervosa especificamente, tem as maiores taxas de mortalidade de todas as doenças psiquiátricas e é uma das poucas doenças psiquiátricas das quais você pode morrer, desde as complicações físicas de comer compulsivamente e purgar e estar abaixo do peso, e o estresse que isso provoca. E outra maneira que as pessoas morrem devido aos transtornos alimentares, e novamente a anorexia nervosa, é devido ao suicídio. Mais pacientes com diagnóstico de anorexia nervosa vão se matar, do que pacientes diagnosticados com depressão, isso nos dá um insight interessante sobre o mundo horrível que é viver com transtornos alimentares. E, no entanto, a sociedade e alguns profissionais, não levam essa doença muito a sério.
    O problema das pessoas com anorexia, é a chamada alternância cognitiva, uma vez que elas ficam fixadas em pequenos detalhes, e esses pequenos detalhes são controle de peso, controle da forma, controle das emoções, contar calorias. O que não se consegue fazer é trocar o foco, não conseguem sair dos pequenos detalhes e dar um passo atrás.
    Outra área na qual a neurociência tem sido muito útil para ajudar a entender é a fascinante área da imagem corporal, foi escaneado alguns cérebros, um estudo conduzido por Perminder Sachdev da Universidade de New South Wales. O que fizeram foi fotografar o grupo controle e fotografar os pacientes, os colocando em ressonância magnética e mostrando a eles a fotos de si mesmos e as fotos dos outros, e tentaram medir a atividade na área viso espacial. Quando o grupo controle olham fotos de si mesmos têm uma atividade na parte de trás do cérebro, como é de esperar; quando eles olham para a dos outros, tem a mesma atividade. Quando pacientes com TA olham para fotos de outras pessoas, eles apresentam atividade similar à do grupo controle, quando eles olham fotos de si mesmos, não acontece muito coisa na parte de trás do cérebro. O que se pode dizer é que é uma situação muito difícil, porque não consegue se criar uma imagem de como você é, quando se volta aos exames de ressonância e olha o que acende em pacientes com TA olhando para imagem de si mesmos, é a amígdala, que processa o medo, as funções do corpo amigdalóide ou amígdala são muito variadas, refletindo também sua complexidade estrutural. Lesões ou estimulações desta área com animais resultam em alterações do comportamento alimentar (afagais, hiperfagias) ou da atividade das vísceras, bastante semelhantes às que se obtêm com procedimentos idênticos feitos no hipotálamo. A amígdala faz parte do chamado cérebro profundo, no qual primam as emoções básicas, tais como a raiva ou o medo e também o instinto de sobrevivência. Básicas, sem dúvida, para a evolução de qualquer espécie. A amígdala, esta estrutura em forma de amêndoa, é própria de todos os vertebrados e se localiza na profundidade dos lóbulos temporais, fazendo parte do sistema límbico e processando tudo relacionado a nossas reações emocionais.



    O processo que a amígdala acende pode ser replicado de diversas maneiras, mostrando fotos ou cheiros de comida, em pessoas sem TA as áreas de prazer iriam acender, mostrando fotos de salgadinhos traria memória de feriados agradáveis na praia ou coisa do gênero, assim lembrança de sabores iria acender. Para alguém com TA o medo acende. Então, de certa forma, duas coisas acontecem, uma é quando se tem medo de algo, essa coisa parece maior do que realmente é;  outra coisa que acontece quando se tem medo é que procura-se evitar, se a comida me deixa com medo porque há um problema de ligação no seu cérebro, evita-se; se ver a si mesmo como maior dar medo, a pessoa tentará solucionar o problema, existe esse mito que a neurociência tenta quebrar, de que os TA são deliberados. A anorexia nervosa é uma doença com origem cerebral.
    Pensar em alguém que tem anorexia por vontade própria, é como dizer para alguém com o diagnóstico de esquizofrenia: “pare de escolher ter esse delírio sobre uma invasão alienígena, apenas pare com isso” não é uma técnica terapêutica muito eficiente, no entanto, por anos o tratamento de anorexia é: “apenas como.” As pessoas não são programadas para fazer algo que eventualmente as levará a um sofrimento  e que aumenta o seu risco de cometer suicídio, as pessoas não são programadas para não comer, mas meio que se culpa os pacientes com anorexia, por algo que está se descobrindo que é uma patologia do cérebro. Não existe pessoas que escolheram ser esquizofrênicas, e não há sentido em pensar que temos pacientes que escolheram ter um transtorno alimentar.
    Então, a neurociência tem sido muito importante, porque o estigma é realmente falar dessa doença como algo das passarelas, isso mostra que as pessoas não levam essa doença a sério.

    O hipotálamo e sua ligação com disfunções alimentares






    A obesidade hipotalâmica (HyOb) pode ser definida como uma complicação de extensas lesões hipotalâmicas que podem causar  alterações metabólicas,   como hiperfagia, hiperinsulinemia, prejuízo da termogênese, além de desordens funcionais no sistema nervoso autônomo.
    O hipotálamo é a região do encéfalo (diencéfalo) de vertebrados relativamente pequenos, localizado sobre o tálamo, cuja função é manter a homeostase, isto é, o equilíbrio das funções internas corporais em ajustamento ao ambiente, principalmente por meio da coordenação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino.

    O hipotálamo também produz dois hormônios, a ocitocina (OCT) e o hormônio antidiurético (ADH) que são transportados para a neuro hipófise onde são armazenados, além de liberar fatores que regulam a atividade da adenoipófise. 
    Através de evidências clinicas e experimentais, demonstrou-se que o Hipotálamo se relaciona com todas as funções e atividades viscerais.
    O Hipotálamo é o principal centro subcortical de regulação de atividade simpática e parassimpática, exerce atividade sobre o metabolismo de açúcares e gorduras, regula a temperatura corporal e o balanço hídrico.
    O controle do balanço energético de animais e seres humanos é realizado pelo sistema nervoso central (SNC) por meio de conexões neuroendócrinas, em que hormônios periféricos circulantes, como a leptina e a insulina, sinalizam neurônios especializados do hipotálamo sobre os estoques de gordura do organismo e induzem respostas apropriadas para a manutenção da estabilidade desses estoques..
     A obesidade hipotalâmica  pode ser observada especialmente em pacientes com craniofaringioma (CP), um tumor embrionário localizado na região do hipotálamo/hipófise, que causa danos ao hipotálamo devido ao próprio tumor e pelo tratamento (excisão cirúrgica e radioterapia). O craniofaringioma é uma neoplasia de natureza benigna, pouco frequente, responsável por 1% a 3% de todos os tumores intracranianos.
    Outros fatores também podem fazer parte da etiologia da obesidade hipotalâmica:
    -Tumores: Craniofaringioma, epitelioma, angiosarcoma, colesteatoma, pinealoma, greminoma, endotelioma, ependimoma, glioma, meningioma, macroadenoma hipofisário, teratoma, metástases.
    -Inflamação: Sarcoidose, tuberculose, aracnoidite, histiocitose x, encefalite.
    -Síndromes genéticas: Síndrome de Prader-Willi, síndrome de Bardet-Biedl.
    -Traumatismo craniano
    -Neurocirurgia
    -Radioterapia craniana
    -Aneurisma cerebral
    -Drogas psicotrópicas
    O mecanismo proposto para a obesidade hipotalâmica tem sido descrito como um desequilíbrio a ação de hormônios orexígenos e anorexígenos decorrentes dos fatores acima mencionados, que levam à sinalização hipotalâmica disfuncional da homeostase energética.
    Embora alguns estudos tenham demonstrado que estratégias terapêuticas não farmacológicas, como dieta e atividade física, estejam associadas com melhora na composição corporal e retardo no ganho de peso, ainda são necessários mais estudos para estabelecer a terapia nutricional mais adequada para esses indivíduos.

    Integrantes
    Alda Letícia de Souza Andrade
    Amauri plácido da Silva Neto
    Beatriz dos Anjos Dias
    Luamar da Silva Biquiba Guarani
    Joquebede de Queiroz Santana
    Roney da Silva Arrais

    Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1

    Referências 

    Insight Psicoterapias: O cérebro, a mente e os Transtornos Alimentares “Chris Thornton” Disponível em:
    Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=4L3USZLGI1Y&feature=youtu.be.> Acesso em: 27 fevereiro 2019.

    Disponível em <https://amenteemaravilhosa.com.br/amigdala-sentinela-das-emocoes>/. Acesso em: 04 março 2019.

    MACHADO, Angelo BM. Neuroanatomia Funcional. 2ª Edição, São Paulo. Editora Atheneu, 2004.
    Disponível em <https://www.endocrino.org.br/causas-obvias-de-obesidade>. Acesso em 04 de março de 2019

    Disponível em < https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/nutricao/controle-neuronal-da-fome-e-saciedade/32824> Acesso em 04 de março de 2019


    ABI BASTOS, LCS Dér. Henri Wallon: psicologia e educação, 2000.
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