• Nó Górdio 2
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  • sábado, 9 de março de 2019

    Singularidades e subjetividades - Transtorno Alimentares sobre o olhar da Fenomenologia

    Singularidades e subjetividades - Transtorno Alimentares  sobre o olhar da Fenomenologia 




    A perspectiva fenomenológica aplicada aos transtornos alimentares nos remete à importância de considerar o ser humano como um todo, entendendo sua subjetividade a partir da própria história e considerando os afetos (ou a falta deles) que o constituem. Esses transtornos nascem da falta de controle sobre os comportamentos alimentares, que podem ir desde a compulsão por alimentos (obesidade) até a total rejeição deles (anorexia e bulimia). Ademais, existem vários transtornos associados aos alimentares, sobretudo os depressivos, de humor e de ansiedade, embora se trate de questões diferentes que demandam intervenções específicas.
    Existe uma dimensão adicional nos transtornos alimentares, que implicam no envolvimento de afetos diversos. Por exemplo, a bulimia e a fome excessiva podem adquirir significados diferentes conforme se trate de alimentos doces ou salgados: os primeiros, que são mais viciantes, agem sobre aspectos de controle de impulsividade e agressividade; os segundos, carregam uma simbologia mais social e familiar, no sentido de agradar aos pais e trazer equilíbrio à dimensão doméstica interior. Assim, reforça-se a importância de considerar cada pessoa como um universo, uma vez que a natureza mesma do fenômeno sugere que ele se manifesta de maneira singular para cada um, havendo várias respostas diferentes a essa manifestação.
    Ainda, é importante destacar o entendimento dos transtornos alimentares à luz da psicologia humanista, sobretudo às teorias de Carl Rogers e Fritz Perls. Para além de questões orgânicas implicadas no processo alimentar e possíveis dependências decorrentes, abre-se um campo de entendimento maior, que considera outras variáveis envolvidas na dependência, na medida em que o homem é um “ser-para-a-morte” e cuja vida se completa numa relação autêntica e verdadeira (sendo, também, “ser-com-os-outros”).
    Aqui, “voltar-às-coisas-mesmas” sugere compreender as implicações profundas que os transtornos alimentares trazem à vida do portador. O pano de fundo é a própria humanidade da pessoa, sujeita a um incontável número de sugestões vindas de fora (como se deve agir/ o que se deve ou não comer/ que corpo se deve ter etc. para que a pessoa se sinta efetivamente amada e aceita no mundo) e que são paulatinamente incorporadas à sua realidade interior, tornando-se parte da pessoa, confundindo-se com quem ela realmente é.
    Convém, ainda, trazer à tona os conceitos de educação humanista e educação autoritária trazidos por Fromm (1983), pois são processos que, cada um à sua maneira, podem provocar aprisionamento ou libertação. Uma cultura de formação eminentemente individualista, em que os interesses de cada um estão acima dos da coletividade, e que não considera as pessoas como organismos carregados de vivências e histórias, inevitavelmente implicará em adoecimento e sofrimento psíquico. O sentido profundo, que dá significado à vida e aos dias, aquele mesmo sentido de que falou Frankl (1985), tem se perdido em meio às demandas por consumo e prazeres baratos que, longe de atender àquilo a que se propõem, causam mais sofrimento e falta de sentido.
    Portanto, destaca-se a importância da compreensão desses transtornos a partir de um ponto de vista fenomenológico. Como se sabe, a natureza mesma do fenômeno o torna singular em suas manifestações, de maneira que, para cada pessoa, as angústias e transtornos associados estão imbricados um conjunto de relações reforçadoras dessa singularidade. Convém, assim, pontuar a urgência da implementação de verdadeiros “bolsões humanistas”, conforme defendia Amatuzzi (2010), ampliando as possibilidades de manifestação das subjetividades naquilo que elas têm de mais verdadeiro, e criando vias de acesso às demandas reais dos seres humanos, considerando-os totalidades carregadas de sentido e que caminham para a evolução.

    Integrantes
    Alda Letícia de Souza Andrade
    Amauri plácido da Silva Neto
    Beatriz dos Anjos Dias
    Luamar da Silva Biquiba Guarani
    Joquebede de Queiroz Santana
    Roney da Silva Arrais

    Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1

    Referências 

    AMATUZZI, M. M. Por uma psicologia humana. Campinas: Alínea, 2010.
    CHARBONNEAU, G.; MOREIRA, V. Fenomenologia do transtorno alimentar de comportamento alimentar e adicções. Rev. latinoam. psicopatol. fundam. São Paulo, v. 16, n. 4, p. 529-540, dezembro de 2013. 

    Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142013000400003&lng=en&nrm=iso>. acesso em 03 mar. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-47142013000400003.
    FRANKL, V. E. (1985). Em busca de sentido (W. Schlupp, trad.). Petrópolis, RJ: Vozes.
    FROMM. E. Análise do Homem. Ed. Guanabara, 1983.

    NUNES, A. L.; HOLANDA, A. Compreendendo os transtornos alimentares pelos caminhos da Gestalt-terapia. Rev. abordagem gestalt., Goiânia, v. 14, n.2, p.172-181, dez.2008. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180968672008000200004&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 03 mar.  2019.

    ROGERS, C. A pessoa como centro. São Paulo: EPU, 1977.

    ROGERS, C. Um jeito de ser. EPU, S.P.2014.

    PERLS, F. Isto é gestalt. São Paulo Summus, 1977.







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