• Nó Górdio 2
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  • sábado, 9 de março de 2019

    Um olhar genético sobre transtornos alimentares


    Um olhar genético sobre transtornos alimentares



    Esse trabalho tem como tema “os transtornos alimentares”, que são caracterizados por perturbações no comportamento alimentar. Entretanto, daremos enfoque a três principais que são a anorexia, bulimia e a obesidade. A anorexia e a bulimia são transtornos que podem levar ao emagrecimento extremo, esses quadros são causados por uma redução da alimentação inadequada, e ambos têm como características comuns: uma intensa preocupação como o peso e o medo excessivo de engordar, uma percepção distorcida da forma corporal, e a auto-avaliação baseada no peso e na forma física. Nesses dois principais transtornos os motivos genéticos não são comprovados pela literatura.
    Já a obesidade é o acúmulo de gordura no corpo causado quase sempre por um consumo excessivo de calorias na alimentação, superior ao valor usada pelo organismo para sua manutenção e realização das atividades diárias. A obesidade está associada a motivos multifatoriais e envolvem fatores tanto fatores ambientais, estilo de vida e fatores emocionais, além disso já é comprovado que existem fatores genéticos, em que uma pessoa pode herdar a disposição para obesidade; ter o metabolismo mais lento, o que facilita o acúmulo de gorduras e dificulta o emagrecimento, ou ter aumento de peso por conta das oscilações hormonais.  Nesse momento focaremos mais nesse último transtorno por ter causas genéticas comprovadas pela literatura.
    Para iniciar essa discussão se faz interessante ressaltar que, para sobrevivência e reprodução dos nossos antepassados era preciso armazenar calorias excessivas para transforma-las em energia, como um modo de perpetuar a espécie. Desta forma, podemos pensar que as gerações seguintes podem ter apresentado genes que favoreceram essas características de sobrevivência, o que hoje pode ser entendido como um desenvolvimento genético para a obesidade.
    Assim, fazendo uma análise dessas características genéticas  para  uma perspectiva atual, podemos notar que filhos biológicos de pais  obesos,  têm  maiores chances de serem obesos, diferente dos filhos não biológicos de pais não obesos (possuem menos chances de serem obesos). “Estudos feitos com gêmeos univitelinos, já mostraram que, mesmo que as crianças vivam separadas, há semelhança de peso. Com crianças adotivas ocorre o mesmo fenômeno: o peso é mais parecido com o dos pais biológicos do que com os pais adotivos”1. Logicamente que o estilo de vida ( fatores ambientais) também influencia no progresso ou retardo desse transtorno. Por isso se faz necessário compartilhar hábitos alimentares saudáveis e praticar atividades físicas, evitando, assim,  doenças que podem ser acarretadas pela obesidade. Os avanços tecnológicos proporcionaram informações mais aprofundadas para parte genética, assim atualmente temos pesquisas que sugerem a atuação de alguns genes que exercem influência para a obesidade, como os: FTO, o gene fat mass and obesity associated (FTO) é altamente expresso no hipotálamo, sugerindo um potencial papel do FTO no controle da ingestão alimentar e do metabolismo corporal; Gene do Receptor da Leptina (LEPR), a leptina consiste numa proteína produzida e secretada principalmente pelo tecido adiposo branco, que se destaca pela atividade de regulação da ingestão alimentar e controle do gasto energético através da ação sobre receptores da leptina localizados no hipotálamo; Receptores de Melanocortinas Tipos 4 e 3 (MC4R e MC3R), que estão implicados na regulação do peso corporal, modulando o gasto energético e a ingestão alimentar. As pesquisas também proporcionaram um maior conhecimento sobre o período gestacional pois hoje sabemos que o peso da mãe define o futuro peso da criança. 
    Engordar muito durante a gestação, favorece o desenvolvimento de tecido adiposo, de gordura, no primeiro ano de vida da criança. Assim aspectos genéticos e uma gravidez que não foi bem desenvolvida podem causar muitos transtornos a criança.
    Pensando nesse carga genética e no desenvolvimento do ser humano, o ideal é olhar pela saúde da criança desde a gravidez, mantendo o peso adequado e a alimentação saudável, e ensinar bons hábitos de vida, como alimentação rica em legumes, frutas, cereais integrais, e preferir atividades ao ar livre, para se manter  em movimento, sempre que possível. Haja vista que , Quando o pai e mãe não tem obesidade, o risco de ter filhos obesos é de apenas 10%. No entanto , quando ambos, pai e mãe, tem obesidade, o risco da criança desenvolver obesidade é de 80%. E quando apenas um tem a condição, este risco diminui para 40%. Logo , nota-se que uma predisposição genética para obesidade , sabe-se hoje que os genes contribuem em 25-40% para a obesidade. Os genes da obesidade podem exercer os seus efeitos alterando os gastos energéticos do organismo, o apetite ou a forma como o organismo processa os nutrientes.
    Em um artigo publicado pela Universidade de Navarra, Espanha em 2014 revelou após diversos estudos com elevado número de famílias com diferentes graus de consanguinidade permitiram quantificar e a associar indicadores objetivos de obesidade (IMC/%gordura), com a proximidade do grau de parentesco sendo o coeficiente de correlação (r2) baixo entre esposos (0,10-0,19) e tios—sobrinhos (0,08-0,14), aumentando entre pais e filhos (0,15-0,23) e entre irmãos (0,24-0,34). A correlação do Índice de Massa Corporal (IMC) é ainda mais elevado em gêmeos monozigóticos (0,15-0,42) e dizigóticos (0,70-0,88). Ademais, estudos de intervenção dietética, baseados em balanços energéticos positivos e negativos em gêmeos idênticos, assinalam fidedignamente que as diferenças na susceptibilidade à super alimentação crônica ou a períodos de inanição, parecem ser explicadas principalmente por fatores genéticos.
    A obesidade monogênica é definida como a obesidade resultante da mutação ou deficiência de um único gene. As formas monogênicas de obesidade podem ser divididas em três grandes categorias:
    A primeira delas é a obesidade causada por mutações em genes que apresentam papel fisiológico no sistema de balanço energético hipotalâmico leptina-melanocortina. Dentre elas, pode-se citar a deficiência congênita de leptina, a deficiência do receptor de leptina, a deficiência completa de POMC (pró-opiomelanocortina) e mutações no receptor tipo 4 de melanocortina (MC4R). Esse tipo de obesidade cursa com obesidade muito severa, hiperfagia e outras alterações, como hipogonadismo.


    A segunda categoria é a obesidade resultante de mutações nos genes necessários para o desenvolvimento do hipotálamo (SIM1, BDNF e NTRK2)
    ·         BDNF : fator neurotrófico derivado do cérebro    localização  11p14.1
    ·         SIM1: homólogo obstinado 1 - localização  6 q16.3-q21
    ·         NTRK2 : Ttirosina quinase neurotrófica, receptor, tipo 2 – localização  9 q22.1
    As mutações nestes genes foram descritas recentemente e também foram implicadas no desenvolvimento de obesidade em ratos e em humanos. Os mecanismos pelos quais estes genes regulam o peso corporal ainda não são conhecidos. O desenvolvimento anormal do hipotálamo, o prejuízo pós-natal à função destes genes ou ambos os mecanismos podem ser responsáveis pelo fenótipo de obesidade.
    A terceira categoria é a obesidade apresentando-se como parte de uma complexa síndrome causada por mutações em genes cuja relação funcional com a obesidade ainda não é clara (ex: síndromes de Bardet-Biedl, de Alstrom e de Carpenter).As causas monogênicas de obesidade identificadas até o presente momento são responsáveis por menos de 5% da obesidade severa, e são muito heterogêneas em si.
    Obesidade poligênica
    Poligênico é quando vários pares de genes interagem para determinar uma característica, cada um com efeito aditivo sobre o outro
    O fenótipo obeso é um traço multifatorial estabelecido por um somatório dos efeitos genéticos e ambientais, sendo rara a obesidade monogênica. Diversos polimorfismos genéticos parecem estar associados com a obesidade.
    Estudos sobre a obesidade poligênica baseiam-se na análise de polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNPs) ou repetição de bases localizadas em um gene candidato ou próximas a ele.
    Os genes relacionados à obesidade comum, ou poligênica, estão envolvidos em uma ampla variedade de funções biológicas, como a regulação da ingestão alimentar, do gasto energético, do metabolismo lipídico e da glicose e o desenvolvimento do tecido adiposo.
    Não apenas o número de genes associados com a obesidade é grande, como também as variantes genéticas em alguns deles, demonstrando a importância dos polimorfismos na interpretação do estímulo ambiental.
    Neste sentido, diversos índices do fenótipo da obesidade apresentaram correlações estatisticamente significantes com alguns genes, como por exemplo, apolipoproteína B (ApoB), apolipoproteína D (ApoD), fator de necrose tumoral (TNF-α), receptor D2 de dopamina (DRD2), receptor de lipoproteína de baixa densidade (LDLR), receptor de melanocortina 4 (MCR4), receptor de melanocortina 5 (MCR5), leptina e seu receptor (LEPR), receptor de glicocorticoides (GLR), receptor ativado por peroxissomas (PPAR), receptor adrenérgico β3 (ADRB3) e proteína transportadora de ácidos graxos (FABP2).
    Além disso, alguns estudos sugerem que no braço 7q próximo do gene LEP, podem existir marcadores intimamente relacionados com a obesidade. Também a região cromossômica 11q e o cromossomo 20 apresentaram uma possível associação com a obesidade, assim como os cromossomos 2, 5 e 10 com a leptina circulante, onde se encontram os genes da proteína reguladora da glicoquinase (GKRP) e da pró-opiomelanocortina (POMC).

    Integrantes
    Alda Letícia de Souza Andrade
    Amauri plácido da Silva Neto
    Beatriz dos Anjos Dias
    Luamar da Silva Biquiba Guarani
    Roney da Silva Arrais

                                  Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1


    Referências 


    Thompson & Thompson Genética Médica - 8ª Ed. 2016, Genética 26 -55.

    MOLLER ,M.F Estudos genéticos de síndromes associados a obesidade  . Dissertação apresentada ao Institudo de biociências da Universidade de São Paulo , para obtenção de titulo de mestre em Biologia/Genética  (2014)  . 16-69.

    Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732004000300006> Acesso em 4 de março de 2019

    Disponível em < http://fisiologiadaobesidade.blogspot.com/2009/05/obesidade-monogenica.html > Acesso em 4 de março de 2019


    Disponível em <https://repositoriaberto.up.pt/bitstream/10216/61811/2/46855.pdf
    >Acesso em 4 de março


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