O preconceito pode ser
entendido pela psicologia social como sendo uma atitude negativa dirigida a um
grupo e aos que fazem parte dele. Essas atitudes são baseadas em julgamentos
superficiais prévios que, muitas vezes, são mantidos mesmo diante de fatos que
os contrariam. Pode-se dizer que o preconceito atualmente não está muito ligado
à atribuição de características negativas, e sim atrelado à negação de
características positivas relacionadas a um determinado grupo alvo. A
discriminação está ligada diretamente ao preconceito, por ser entendida nesse
aspecto como um comportamento negativo voltado a esse grupo específico. A negação
dos direitos de uma pessoa apenas por esta pertencer a determinado grupo alvo,
é um exemplo de discriminação muito comum na sociedade.
Nesse contexto, abordaremos
como o preconceito permeia a vida de famílias com crianças portadoras da
microcefalia, uma condição neurológica rara caracterizada por uma redução do perímetro cefálico que provoca limitação no desenvolvimento da criança. Mães de portadores enfrentam situações diárias de preconceito. De acordo com nossas
pesquisas, diversas mães relatam a forma hostil e discriminatória que seus
filhos são tratados e que são submetidos em diferentes aspectos e locais. Na
maioria das situações, as crianças recebem ofensas sobre suas características
físicas e também são questionadas sobre suas capacidades cognitivas.
Um projeto realizado na
Universidade Federal do Vale do São Francisco, ‘Pele e Pelo’ desenvolve ações
voltadas para o cuidado de crianças microcefálicas, bem como dos respectivos
cuidadores. Segundo a psicóloga do projeto, que lida diretamente com famílias
de crianças com microcefalia, todas as mães que fazem parte do projeto relataram
ter sofrido preconceito, incluindo por profissionais da área de saúde. Das nove
mães participantes, sete foram deixadas pelos seus companheiros quando estes
souberam do diagnóstico de microcefalia no recém-nascido. Esses relatos
comprovam que o preconceito e a discriminação estão diretamente envolvidos nas
relações sociais e que estes moldam a forma como essa criança, nesse caso
específico, vai ser vista e tratada pela sociedade em geral.
Existem políticas públicas
que asseguram os direitos de crianças com microcefalia a exemplo da lei 13.146
de julho de 2015 (lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência) que é
destinada a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos
direitos e das liberdades fundamentais por pessoas com deficiência, objetivando
a sua inclusão na sociedade e garantindo o direito à sua cidadania. Mas essa
realidade infelizmente está culturalmente enraizada no âmbito social
brasileiro, de forma que, mesmo com essas garantias, a sociedade não reconhece
totalmente esses direitos, fazendo com que tais comportamentos e atitudes
preconceituosos e discriminatórios perpetuem mais ainda diante desses aspectos.
Autores:
Barbara Rodrigues Caze
Caio César Fernandes de Santana Bandeira
Caio Ricardo Santos Almeida
Carina Oliveira Rios
Claudio Hummer Freitas de Queiroz
Larissa Kelly Fonseca de Carvalho
Lucas Sousa Matos Soares
Thaís Teixeira de Albuquerque
Referências:
BRASIL.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vírus Zika no Brasil: a resposta do SUS. Brasília: Ministério da
Saúde, 2017. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/virus_zika_brasil_resposta_sus.pdf>
Acesso em 9 de março de 2019.______. LEI Nº 13.146. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Brasília, DF, jul 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm> Acesso em 9 de março de 2019.
MARTINELLI, Andréa, FERNANDES, Marcella. Do tratamento ao preconceito: Quais são as barreiras das crianças vítimas do zika vírus. Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/2017/12/11/do-tratamento-ao-preconceito-quais-sao-as-barreiras-das-criancas-vitimas-do-zika-virus_a_23300907/> Acesso em 9 de março de 2019.
MYERS, D. G. Psicologia Social. Preconceito, estereótipo e discriminação. Rio de Janeiro: LTC, 2000.
Seja o primeiro a comentar!
Deixe teu comentário!