• Nó Górdio 2
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  • domingo, 10 de março de 2019

    O SUJEITO ALCOÓLICO SOB A PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA


    O SUJEITO ALCOÓLICO SOB A PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA





    Vários fatores podem levar o indivíduo a possuir problemas com álcool, indo do uso, para o abuso, e daí partindo para a dependência, onde estará situada a condição do ser alcóolico. Além dos fatores biológicos/genéticos, estarão também envolvidos os fatores culturais, ambientais e coercitivos. Essa busca ao álcool também estará relacionada com a necessidade de “anestesiar” algo que o sujeito não tem a capacidade de sozinho, lidar. Mostrando assim como o relato de um dos entrevistados, que era incentivado a beber pelos seus tios desde os 12 anos, e que uma vez que começou durou anos para parar; fazendo-o acreditar que esse comportamento o tornaria mais “homem”, sendo, assim, uma forma de também exemplificar como a masculinidade tóxica – promovida pelo sistema social machista – pode influenciar um sujeito já predisposto à uma patologia, há definitivamente tê-la. Ademais, ratificando a influência que os vínculos próximos, e o ambiente em si, podem influenciar no desenvolvimento do alcoolismo.

    A partir da perspectiva fenomenológica existencial, o sujeito vítima de alcoolismo vivencia uma deterioração do desenvolvimento do self e uma estagnação do seu processo pessoal e relacional, onde as pessoas em sua volta, geralmente familiares, como relatado, irão perder a confiança e respeito, retirando a autonomia e a moral desse indivíduo, fazendo-o perder sua identidade. Seguindo o viés de Sartre sobre a liberdade, alguns alcóolicos teriam que passar por experiências limites, chegando ao fundo do poço, o que os levaria a escolher pela abstinência, a fim de obter a possibilidade de escolha mediante a sua própria impotência diante do álcool e recuperar a sua autonomia. De acordo com Amatuzzi (2001), quando o indivíduo está estagnado em uma condição e ele começa a ter uma mobilização interna, haverá uma reconexão com seu centro, entrando em contato consigo mesmo, com o seu coração. Assim, desemperrando o desenvolvimento do seu processo terapêutico. 

    Além da importância do autoconhecimento e do aprimoramento da relação intrapessoal, é necessário que o centro do indivíduo entre em contato com outros centros, ocorrendo dessa forma o processo grupal, em que estará em conexão não mais apenas os centros pessoais, mas o centro grupal, constituído de uma sabedoria diversificada e harmônica, em que as pessoas irão se comunicar de coração aberto. Aqui entra a extrema importância da irmandade dos Alcóolicos Anônimos na experiência intrapessoal e interpessoal do processo de cada indivíduo, sendo, a partir dos relatos, o AA como o processo grupal de Amatuzzi (2001). É no AA que os membros demonstram ter um lugar para se sentir como iguais, e assim, haver sem julgamentos uma troca de experiências, fortalecendo uns aos outros e, portanto, fortalecendo os vínculos grupais e os impulsionando à uma evolução do self. Nos escritos de Amatuzzi (2001) é possível visualizar isto:

    Quando as pessoas se comunicam de coração, a partir de seu íntimo, manifesta-se a alma do grupo, uma sabedoria viva que é maior que a consciência das pessoas, mas que, de certa forma, depende dela. Quando a comunicação flui, e sabemos nos abrir ao que se manifesta, acontecem muitas coisas sábias que não havíamos previsto, e às quais não poderíamos chegar sozinhos. Isso é o processo grupal no melhor sentido da palavra [...]



    Apesar do AA não oferecer serviço psicológico, é importante ressaltar que alguns indivíduos encontrarão ressignificações e impulsos na evolução de seus processos e no desenvolvimento do self em lugares diferentes. Nos relatos dos membros do AA é muito bem evidenciado em suas experiências a evolução espiritual e a relação familiar que possuem um com os outros, sempre enfatizando que são uma irmandade, demonstrando a importância de se estar num processo grupal, em que este será tido como uma extensão do âmbito individual; foi consenso entre os entrevistados, que o AA é o melhor “remédio” que poderiam ter.



    INTEGRANTES

    CARLIANE SILVA
    GIOVANNA BARBOSA FERREIRA
    LEILA KALINNY GOMES DE SOUZA
    LILIANY JANUÁRIO GONDIM
    MIRIAM VITÓRIA FERNANDES TAVARES
    REBECA MIRANDA REIS
    VITÓRIA LORENA FERREIRA VIANA
    Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1



     REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS :

    AMATUZZI, M.M. Cap. IX Processos humanos. In: Amatuzzi, M.M. (2010). Por um Psicologia Humana p. 123-143.

    BOGADO, C. MATTOS, ISABEL CLÍMACO; MATTOS, ISABEL CLÍMACO. A FENOMENOLOGIA DO SUJEITO ALCOOLISTA. 2011.

    BARBOSA, Maísa. Um olhar clínico diante do alcoolista: a fenomenologia existencial e suas contribuições. Tocantins: Revista Sítio Novo. Vol. 1. 2017.
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