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  • domingo, 10 de março de 2019

    Microcefalia: definição, causas e diagnóstico

    Ao nascer, os bebês apresentam os ossos do crânio ainda maleáveis, não estando completamente ligados uns aos outros. Essa flexibilidade é essencial pois facilita a passagem da criança pelo canal do parto, além de garantir o espaço que o cérebro precisa para se desenvolver, tanto durante o processo de gestação como após o nascimento (nos dois primeiros anos de vida da criança). No momento em que os ossos do crânio se fundem prematuramente não sobra espaço para que o cérebro cresça, havendo comprometimento de suas estruturas. Quando ocorrem anormalidades no crescimento do cérebro dentro da caixa craniana, e a cabeça e o cérebro da criança passam a apresentar tamanhos menores do que o normal temos um quadro denominado microcefalia. 


    A microcefalia trata-se de uma condição neurológica rara caracterizada por uma malformação congênita que provoca redução do perímetro cefálico e, consequentemente, alterações no sistema nervoso central.

    Algumas crianças microcefálicas podem se desenvolver normalmente, mesmo com a circunferência do crânio sendo menor do que o que se espera para crianças da sua idade. No entanto, na maioria dos casos, os portadores de microcefalia apresentam atraso no desenvolvimento neurológico, mental, psíquico e motor. Em geral é comum que surjam complicações como déficit cognitivo grave, comprometimento visual, auditivo e da fala, hiperatividade, baixo peso, baixa estatura e convulsões (epilepsia). Todos esses problemas são ocasionados pelo fato do cérebro não ter recebido espaço suficiente para se desenvolver, assim, várias funções ficam comprometidas levando a essas e outras limitações, podendo a gravidade da condição variar de uma criança para outra. Fisicamente é muito fácil identificar uma criança portadora, uma vez que elas apresentam cabeça pequena, com o couro cabeludo solto e meio enrugado, testa curta e projetada para trás, além de face e orelhas desproporcionalmente grandes.



    QUAIS AS PRINCIPAIS CAUSAS DA MICROCEFALIA?

    Uma série de fatores podem ser apontados como causadores da microcefalia: desnutrição da genitora, abuso de drogas durante o período de gestação, infecções adquiridas na gestação (rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, entre outras). Há uma variedade de anormalidades e síndromes metabólicas e genéticas, além de fatores ambientais, que podem afetar o desenvolvimento do cérebro e se associar à doença.

    Nos últimos meses do ano de 2015, o Brasil registrou um aumento inesperado do número de nascimentos de crianças microcefálicas. Inicialmente, Pernambuco apresentou maior incidência, mas em seguida outros estados da região Nordeste, assim como do Centro-Oeste e Sudeste, viram os números de casos crescer. Esse crescimento repentino de nascimentos de microcefálicos despertou a atenção dos órgãos ligados à saúde pública, que logo levantaram a hipótese de que esse surto estaria relacionado a infecção pelo Zica vírus, uma doença febril transmitida por meio da picada do mosquito Aedes Aegypti, o mesmo transmissor da dengue, da febre Chikungunya e da febre amarela urbana. A suspeita decorria do fato de que parte das mulheres que tiveram bebês com microcefalia apresentou manchas na pele, febre e coceira no corpo durante a gravidez. No entanto, apesar desses sintomas serem comuns na infecção por Zica vírus, não eram suficientes para estabelecer a relação de causa e efeito com os novos casos da microcefalia. Somente após o Instituto Evandro Chagas, importante centro de pesquisas de Belém do Pará, identificar a presença do Zica vírus numa garota do Ceará que nasceu com microcefalia e outras doenças congênitas, o Ministério da Saúde confirmou oficialmente a relação entre a má-formação do cérebro, a infecção por esse vírus e o surto de microcefalia que ocorreu em vários estados brasileiros.

    Segundo estudos, a infecção congênita pelo vírus Zica pode provocar alterações cerebrais no bebê, principalmente no primeiro trimestre do processo de gestação. Pesquisadores da Universidade Federal do ABC, através de um artigo publicado na revista Molecular Neurobiology, constataram que a infecção pelo Zika prejudica a interação entre os neurônios e as células da glia, tida como fundamental para o desenvolvimento do córtex cerebral. Essas células podem ser divididas, de acordo com sua forma e função, em oligodendrócitos, astrócitos, células de Schwann, células ependimárias e micróglias. Segundo o professor Kihara, que conduziu a pesquisa: “Neurônios e células da glia precisam estar aderidos entre si para que a migração para o córtex ocorra. Nossa hipótese é que a alteração na expressão das conexinas torna o processo menos eficiente. E, de fato, há estudos mostrando que no cérebro de bebês expostos ao Zika durante a gestação há um número menor de neurônios no córtex”.

    COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?

    É possível identificar se o bebê é portador da microcefalia antes mesmo do nascimento. Durante a gestação exames pré-natais são fundamentais, uma vez que pela ultrassonografia pode-se realizar uma avaliação do crânio da criança.

    O diagnóstico leva em conta a medida da circunferência da cabeça (perímetro craniano) tento como referência os dados que constam das tabelas de crescimento padrão para as crianças do mesmo sexo e idade. Os portadores do transtorno apresentam perímetro craniano menor do que 33 cm ao nascer ou, então, menor do que 42 cm ao completarem um ano e três meses e inferior a 45 cm depois dos dez anos de idade.



    Autores:
    Barbara Rodrigues Caze
    Caio César Fernandes de Santana Bandeira
    Caio Ricardo Santos Almeida
    Carina Oliveira Rios
    Claudio Hummer Freitas de Queiroz
    Larissa Kelly Fonseca de Carvalho
    Lucas Sousa Matos Soares
    Thaís Teixeira de Albuquerque

    Referências:
    DRAUZIO. Microcefalia. Disponível em: < https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/microcefalia/#share> Acesso em: 9 de março de 2019.


    GARCIA, Leila Posenato. Epidemia do vírus zika e microcefalia no Brasil: emergência, evolução e enfrentamento. Disponível em: <https://www.econstor.eu/bitstream/10419/177584/1/td_2368.pdf> Acesso em: 9 de março de 2019.


    REIS, Raquel Pitchon. Aumento dos casos de microcefalia no Brasil. Revista Médica de Minas Gerais. Minas Gerais, n. 25, Dez, 2015.


    TOLEDO, Karina. Zika prejudica migração de neurônios para o córtex, sugere estudo. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/zika-prejudica-migracao-de-neuronios-para-o-cortex-sugere-estudo-/25279/> Acesso em: 9 de março de 2019. 


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