A abordagem sobre suicídio na infância sob a ótica da Psicogenética
O
suicídio e a morte são fenômenos que ainda são tratados como um
tabu por boa parte da sociedade. É importante compreender esses
elementos que são corriqueiros na mesma, principalmente na sociedade
ocidental. Segundo Scavacini(2014), perder um ente querido pode gerar
uma dor imensa, fazendo com que a criança, nesse caso, possa ter
cicatrizes que a gente não vê. São cicatrizes que a gente só
consegue sentir. Partindo desse ponto, uma abordagem acerca deste
fenômeno pode ajudar na compreensão e ressignificação da morte
por parte das crianças e jovens, visto que encarar o problema de
frente é melhor do que simplesmente tentar negar as cicatrizes
geradas pela morte de alguém querido que se suicidou.
Dentro
do aspecto do desenvolvimento infantil, Piaget(1923) deixou claro que
ele é muito mais complexo do que se imaginava e ainda se imagina,
visto que a criança é um ser extremamente complexo e mutável.
Tendo em vista que o infanto está em constante desenvolvimento, é
necessário que se tenha cuidado para tratar de um tema tão pesado
como o suicídio, pois se o assunto for tratado de forma negligente
ou errada, o fato pode desencadear uma série de barreiras para o
desenvolvimento cognitivo da mesma. Para Wallon(1984), era essencial
o entendimento dos aspectos principais que poderiam afetar
diretamente ou indiretamente a compreensão e o desenvolvimento do
psiquismo humano. Sendo o suicídio um aspecto corriqueiro da nossa
sociedade, pode ser inferido que a educação é essencial para a
compreensão e o desenvolvimento da criança, visto que se ela não
for educada corretamente para lidar com este fato, pode ser que ela
tenha traumas no futuro.
Para
Shaffer & Piacentini(1994), O desejo de morte pode variar, mas
sofre sempre a influência de pressões e estressores ambientais, o
que acentua a importância da necessidade de atenção para a
existência de possíveis fatores de risco cognitivos para uma
primeira tentativa ou para uma recorrência do comportamento suicida.
Tendo em vista que o suicídio ainda é tratado como tabu e levando
em conta os estágios do desenvolvimento infantil presentes na teoria
psicogenética de Piaget, o suicídio poderia ser tratado de formas
diferentes ao longo deste processo, visto que a criança tem
diferentes níveis de percepção da realidade nos diferentes
estágios de seu desenvolvimento. Scavacini(2014), por exemplo, traz
em seu livro uma linguagem simples, confortável e de fácil
compreensão pras crianças menores. A reflexão e compreensão de
aspectos relacionados ao suicídio podem dar uma visão mais completa
sobre o assunto. Esses aspectos podem variar de caso pra caso mas, em
geral, segundo Kuczynski(2014), alguns deles são: depressão,
desesperança, impulsividade e dificuldades no relacionamento
interpessoal. Abordando esses aspectos de uma forma adaptada a cada
nível do desenvolvimento infantil, a taxa de suicídio entre jovens
e adultos poderia diminuir, visto que quando o assunto é tratado de
uma forma inconsequente, atitudes inconsequentes também podem
acontecer. É importante que a base familiar esteja aberta ao diálogo
sempre, pois, segundo Kuczynski(2014), a censura e julgamentos
precipitados podem atrapalhar o diálogo e a evolução satisfatória
da compreensão do fenômeno. Tendo essa evolução embarreirada, o
infanto pode se tornar cada vez mais recluso e obter visões erradas
sobre esse tema, visto que o suicídio pode ser visto de uma forma
romantizada caso não seja abordado de uma forma coerente e certa.
Além
do que foi visto anteriormente, por não trabalharem a compreensão
deste tema ao longo dos estágios do desenvolvimento infantil, a
criança pode se tornar um adulto com tendências suicidas e
influenciável por certas produções culturais. Um dos aspectos que
se dá para a compreensão desse fenômeno é a falta de diálogo e
informação por parte de educadores e familiares. Segundo uma
reportagem do Jornal Estadão publicada em 2017, um jovem do Peru se
suicidou após ver a série ‘’13 Reasons Why’’, tendo
romantizado a sua morte por conta das muitas semelhanças com o
suicídio da jovem que é retratada na série.
O
diálogo sobre o suicídio na infância é de extrema importância
para o desenvolvimento da criança, visto que ela pode internalizar
valores produtivos acerca do tema, ajudando-a a lidar melhor com este
tema no presente e no futuro. Tendo informações corretas e
reflexivas acerca do suicídio, a criança pode adquirir uma
maturidade emocional que ainda não é muito vista na sociedade
atual, pois este tema ainda é tratado como um tabu
Integrantes
Artur Gabriel Gomes de Moraes
José Luis Amorim
Leonardo Luis Dias Rocha
Matheus de Sousa Cysneiros
Mayriane Santos Silva
Nilo Antunes Teixeira Júnior
Silvio Gabriel Linhares Guimarães
Acadêmicos do segundo período de Psicologia - UNIVASF 2018.1
Referências bibliográficas
- SHAFFER, D.;FISHER, P. (1981). The epidemiology of suicide in children and young adolescents. Journal of the American Academy Child Adolescent Psychiatry, 20, 545-565.
- KUCZYNSKI, E. Suicídio na infância e adolescência. Psicol. USP, São Paulo , v. 25, n. 3, p. 246-252, dez. 2014. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642014000300246&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 10 mar. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20140005.
- https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,no-peru-jovem-imita-13-reasons-why-e-deixa-gravacoes-apos-se-suicidar,70001834634
- SCAVACINI, K.. E agora? Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio. 1ª edição. São Paulo: All Print Editora, 2014.
- WALLON, H. A Criança Turbulenta- Estudo sobre os retardamentos e anomalias. Vozes, 1984.
- TAILLE,Y.; OLIVEIRA, M.; DANTAS, H..Piaget ; Vygotsky ; Wallon : Teorias Psicogenéticas em Discussão. 27ª edição, 1993.
Seja o primeiro a comentar!
Deixe teu comentário!