• Nó Górdio 2
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  • domingo, 10 de março de 2019

    A solidão na nova era: uma análise fenomenológica desse estado na depressão

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    Muito se tem comentado, hoje em dia, de como a depressão é o mal do século. Devido sua incidência em todo o mundo, ela vem sendo estudada, pesquisada, e cada vez mais, debatida. Estudos apontam que ao passar dos anos, esta incidência de pessoas acometidas com esse mal tende a aumentar mais. Dentro dessa doença há um estado chamado de solidão, o qual se faz muito presente nas pessoas acometidas com a depressão. Mas, antes de iniciarmos a evidência deste estado, vamos melhor compreender do que se trada tal estado.
    A solidão, em livre significado, é referida a ‘só’, termo que, por sua vez pode significar tanto ‘desacompanhado’ e ‘solitário’ como ‘único’. A solidão pode ser analisada, por um lado, por meio da dor e do sofrimento oriundos da perda. Por outro, como pela capacidade de estar só na ausência do outro. Comumente apontada como uma das principais características presentes na depressão, a solidão, de modo geral, pode vir conceituada em dois estágios: a) o fato de estar sozinho, literalmente; sem a presença ninguém ao seu redor; só completamente e b) estar rodeada de pessoas mas ainda assim encontra-se sozinha. Este último conceito é o mais comum em pessoas acometidas com a depressão. Pois, ainda estando na presença de amigos, trabalhando numa sala lotada, tendo diversos afazeres que envolvam diretamente pessoas, esta ainda sente-se solitária. Em termos psicológicos, a solidão pode caracterizar-se como a ausência afetiva do outro e estar relacionada com a questão sentimental do sujeito: estar só.
    Mas, como o cenário secular em que vivemos pode contribuir e/ou afetar nos sentimentos e nas manifestações psicológicas do outro em relação ao seu bem-estar de convívio e ao que caracteriza a solidão do indivíduo? Bem, entender essa ‘’nova era’’ a qual nos encontramos, diante de avanços tecnológicos, de máquinas substituindo mãos e da expansão dos meios de comunicação é buscar a compreensão do que, hoje, podemos identificar o que é a solidão do sujeito. Não parece contraditório que na sociedade contemporânea da hiperconexão e das redes sociais, uma a cada quatro pessoas se sinta sozinha? Então a solidão seria uma causa ou consequência da depressão no mundo contemporâneo?
    O estilo de vida consumista e individualista de hoje, faz com que a comunicação entre pessoas esteja comprometida. Estamos ocupados no nosso mundo tecnológico e deixamos de lado a via oral e real. O exercício de escutar e ver o outro se tornou uma tarefa esquecida pelas pessoas do século XXI. Ao mesmo tempo em que, por um milésimo tecnológico de segundo, estamos mais pertos de pessoas há mais de 12.000km, nos distanciamos até daqueles que moram conosco e necessitam ser ouvidos. É disso que chamaremos de ‘’nova era’’. A solidão tornou-se, na atualidade, um dos mais graves problemas que desafiam por completo o homem e sua cultura. A tecnologia presente e crescente produz cada vez mais, homens solitários, estando na mesma via de mão do crescimento exacerbado da solidão. É disso que, também, chamamos de ‘’a era de um completo vazio’’.
    O problema da depressão, hoje em dia, é conceituada pela forma que caracteriza a cultura contemporânea. Aqui, o self individualizado tende a potencializar estados internos de emoções, incluindo as angústias resultantes do leque de eventos dolorosos da vida. Ao indagar que passaria o carnaval em casa, sozinho pois não queria barulho, uma conhecida imediatamente abriu bem olhos e num estado de choque soltou: ‘’ SOZINHO?!?!’’. A sociedade contemporânea, de fato, não ensinou ao individuo, sentir-se bem em sua companhia e usufruir desta coisa tão cara, tratando a solidão, sempre, como uma patologia inaceitável, pois é uma condição mal compreendida e estigmatizada.
    A solidão associada à depressão tem significado ambíguo: tanto é causa como conseqüência; tanto é sintoma como é origem, fazendo parte da etiologia; tanto a solidão apresenta caráter ontológico como significa isolamento. Temo que a rapidez e o largo progresso do mundo contemporâneo possa, ainda mais, comprometer a saúde mental dos indivíduos que habitam este planeta. Temo pela grande incidência e prevalência dos casos de solidão no mundo, resultados também da falta de um exercício fenomenológico dos sujeitos. Temo, mesmo progredindo, estejamos regredindo ao contato pessoal, ao afeto, ao olho no olho e ao cuidado que tínhamos, antes da sociedade se envaidecer e dar mais valor a likes do que a abraços.


    Integrantes
    Ana Laura
    Camila Santos
    João Vitor Damascena
    José Nilton
    Rubens Henrique
    Maurício Otávio
    Mário Márcio


             Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1 

    Referências Bibliográficas
    MOREIRA, Virgínia. (submetido para publicação). Critical phenomenology of depression in Brazil, Chile and the United States. Transcultural Psychiatry.

    JORGE, Maria Tereza. Será o ensino escolar supérfluo no mundo das novas tecnologias? Educ. Soc, São Paulo, v. XIX, n. 65, p. 163-178, dez. 1998.
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