A depressão é um transtorno de humor grave frequente, e
ocorre em todas as faixas etárias, sendo que as taxas parecem estar aumentando
entre jovens e idosos. Por razões ainda não totalmente esclarecidas, a
depressão vem se tornando cada vez mais frequente neste século. Talvez isso
seja apenas o resultado de uma melhor identificação e de maior esclarecimento.
Dados referentes ao ano de 2000, publicados na revista brasileira de
psiquiatria, apontam um estudo epi-demiológico norte-americano – “Epidemiologic
CatchmentArea Program”, no qual, 30% dos entrevistados relataram já terem se
sentido deprimidos por no mínimo duas semanas, e 5% relata-ram já terem tido ao
mesmo tempo um episódio de depressão. Distimia foi encontrada em 3% da
população. Com esses numeros, de forma analoga, mas não concreta, podemos
calcular que existem no Brasil aproximada-mente 54 milhões de pessoas que em um
momento de suas vidas terão algum tipo de depressão, sendo que 7,5 milhões
terão episódios agudos e graves, muitas com risco de suicídio. O transtorno de
humor em questão, se não tratado corretamente, pode perdurar por muito tempo,
com sério prejuízo à vida do paciente: trabalho, família e lazer ficam muito
comprometidos, juntamente comum risco maior de suicídio. O tratamento
bem-sucedido reduz esse período para 8 a 12 semanas, a depender do caso.
Entretanto, a depressão, ainda que responda bem ao tratamento instituído, pode
recidivare/ou cronificar. Tratamento medicamentoso constitui o fundamento da
intervenção terapêutica para reduzir a duração e a intensidade dos sintomas do
episódio atual e, principalmente, para prevenir sua recidiva. Nesse presente
estudo, serão analisados três artigos abordando a importância social na
vivência da depressão nas sociedades, a maioria com foco em pesquisas feitas na
cidade de João Pessoa (PB). Além, será vinculado não apenas sintomas, possíveis
causas, mas avanços em estudos que apontam relações entre esse transtorno de
humor e aspectos históricos, culturais e sociais, visto que os diagnósticos
estão cada vez mais presentes na sociedade brasileira e mundial.
No primeiro momento será abordado o impacto familiar no
contexto da depressão, a influencia não apenas genética, mas existente nos
estilos de relações no primeiro grupo social das crianças. De acordo com
estudos, encontra-se a importância na construção de práticas educativas
familiares no comportamento dos filhos, denominado Estilo Pariental . Gomide
aponta em seu modelo de possível metodologia de “molde comportamental” para
influenciar no crescimento do indivíduo na sociedade, acontecimentos que
facilitam ou dificultam a interação social. Esse modelo teórico apresenta sete
práticas educativas que comporiam o Estilo Parental, sendo cinco relacionadas
ao desenvolvimento de comportamentos antissociais e duas favoráveis ao
desenvolvimento de comportamentos pró-sociais. O abuso físico, a punição
inconsistente, a disciplina relaxada, a monitoria negativa e a negligência são
consideradas estratégias educacionais negativas. Já as duas práticas educativas
positivas, monitoria positiva e comportamento moral, dizem respeito ao uso
adequado de reforçadores sociais, ao desenvolvimento da empatia e ao
estabelecimento de contingências reforçadoras ou punitivas para o comportamento
do filho onde se estabelecem regras claras e consequências (sanções) para o
não-cumprimento das mesmas; são ações que promovem o desenvolvimento de
habilidades pró-sociais.
A literatura vem apontando, por um lado, uma correlação
positiva entre depressão e estresse e as práticas educativas negativas de
negligência, abuso físico, punição inconsistente, disciplina relaxada e
monitoria negativa (Hoffman,1994; Patterson e cols., 1992; Petit e cols., 2001;Somer
& Braunstein, 1999; Wood, McLeod, Sigman, Hwang & Cho, 2003).
O modelo de Depressão Beck (Beck, Rush,Shaw & Emery,
1997) aponta para três características presentes no comportamento do indivíduo
em depressão:
a)
visão negativa em relação a si, ao mundo e ao
futuro;
b)
a partir destas visões desenvolvem-se padrões
cognitivos mais ou menos estáveis determinantes dos comportamentos que serão
por ele emitidos;
c)
apresenta erros cognitivos como
hipergeneralizações e raciocínios dicotômicos (péssimo/excelente). Estudos
recentes (Gelfand, Teti, Messinger &Isabella,1995;Menegatti, 2002; Papalia
& Olds, 2000;Patterson e cols., 1992; Pettit e cols., 2001) demonstram a
correlação entre o uso das práticas educativas e a depressão parental. Pettit e
cols. (2001) demonstraram que mães com depressão utilizam-se do controle
psicológico como prática educativa. De acordo com Menegatti (2002), pais
depressivos são menos carinhosos, responsivos e mais irritáveis, hostis e
críticos. Como consequência sua prole tende a ser mais autocrítica e com
dificuldades de regular suas emoções. A autora também observa que a depressão
nos pais pode ser um antecedente para a prática parental negligente, podendo
estar ligada à drogadição e ao comportamento anti-social em crianças e
adolescentes.
Outro fator relacionado à
depressão está presente no estresse vivido por grande parte dos indivíduos nas
sociedades contemporâneas. Malagris e Castro (2000) conceituam estresse como
uma reação do organismo decorrente de alterações psicofisiológicas que
acontecem quando uma pessoa enfrenta situações que podem irritá-la,
amedrontá-la, excitá-la, confundi-la ou mesmo proporcionar intensa felicidade.
Sendo assim, qualquer evento que favoreça uma quebra do equilíbrio do organismo
exigindo adaptação pode ser fonte de estresse. Estes estressores podem ser
externos e internos. Os externos são os acontecimentos que ocorrem na vida das
pessoas e os internos são as características individuais adquiridas pelo
sujeito em sua vida, o saber, padrão comportamental, crenças, capacidade de
enfrentamento, sentimentos, cognições e habilidades sociais do sujeito.
Nesse contexto, é importante
salientar as habilidades sociais que passam a ser prejudicadas em indivíduos
com depressão, afetando não somente o acometido, como toda sua vivência em
sociedade. Aqui, encontra-se uma problemática interessante, visto que, a reação
afetada nas habilidades sociais muitas vezes parte do próprio meio social. Como
exposto anteriormente, o meio familiar pode moldar o comportamento das crianças
e favorecer ou não para atitudes pró sociais, na mesma medida que pode tornar
esse indivíduo alguém com dificuldades em viver em sociedade. Esse primeiro
meio é apenas uma amostra do que pode ser uma sociedade e viver em instituições,
seja escola, ambiente de trabalho ou viver em alguma doutrina. Dessa forma, é
aqui que fica claro o primeiro impacto mutuo que o meio social pode causar em
pessoas depressivas.
Logo, não tão difícil encontrar
pessoas depressivas com queixas relacionadas ao ambiente de trabalho ou de
estudo, seja escolar ou universitário. Pesquisas realizadas no contexto
acadêmico vêm registrando um índice elevado de casos de depressão, a exemplo de
um estudo desenvolvido por Santos, Almeida, Martins e Moreno (2003) com o
objetivo de identificar e mensurar os sintomas de depressão mais frequentes
entre universitários. Este estudo apontou para a predominância de depressão em
mulheres (97%) com idade média de 20anos. No total de uma amostra de 99
estudantes, 41%apresentaram grau de depressão variando de leve até grave, cujos
sintomas mais frequentes foram autoacusação, irritabilidade e fadiga. Para o
desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados um questionário sócio demográfico
e o Inventário de Depressão de Beck (BDI).
Fatores estressantes,
principalmente de origem psicossocial, são enfatizados por Joca, Padovan e
Guimarães (2003), o qual cita que cerca de 60% dos casos dos episódios
depressivos são precedidos pela ocorrência desses fatores mencionados. Neste
sentido, torna-se necessário investigar que situações ambientais predispõem um
indivíduo à depressão, sendo as Representações Sociais um fio condutor nesta
investigação, podendo contribuir para uma melhor compreensão deste transtorno
impregnado de signos sociais com os quais os indivíduos estabelecem relações.
A construção de representações
sociais da depressão processa-se nas trocas de conhecimentos populares e científicos, através de experiências grupais
e sociais que se repetem ao longo da vivência dos indivíduos, ou seja, a
elaboração de um conhecimento prático e compartilhado no grupo social implica
necessariamente, na combinação de dois fatores, o das permanências e o das
diversidades. As primeiras referindo-se à rede de representações construídas
pelo homem, ao longo da sua existência, sendo veiculadas numa sociedade
específica como produções sociais, enquanto as diversidades contêm
representações subjetivas nos seus aspectos singulares, próprios do vivenciar
da problemática em questão (Coutinho et al., 2003).
Além do que é posto pelo meio
social, é importante salientar que não existe faixa de idade para ocorrer a
doença depressiva, aparecendo em qualquer período da vida por meio de fatores
externos ou internos, como já citado. Na maioria dos casos os fatores externos
tem prevalência, e são grande parte das queixas de pacientes, relatando fatores
externos a “dores” internas.
Com isso, podem-se trazer para
pauta, relações entre depressão em extremos da vida, nas fases da infância e
da, como denominada por alguns, melhor idade, ou, velhice. Os dados
epidemiológicos, nas últimas décadas, têm demonstrado uma maior incidência de
sintomas depressivos em crianças de seis a onze anos. Segundo Valla &
Bergeron (1993), das crianças que procuraram serviços clínicos entre 1989 e
1990, a frequência foi de 25% na faixa etária mencionada. Quanto ao idoso, o
reconhecimento clínico dessa síndrome, também é bastante complexo. Por um lado,
os sintomas são muitas vezes atribuídos a processos genéticos, sociais,
degenerativos cerebrais e a doenças físicas que contribuem em proporções
variadas. Por outro, o fato de as pessoas idosas serem mais suscetíveis à
depressão, sobretudo, quando perdem sua autoestima e começam a se considerar
inúteis, um peso para a sociedade e para suas famílias. O convívio com a
solidão, a perda de sentido de vida, a renúncia, a desistência, são desafios
constantes no processo de envelhecimento.
Portanto, a depressão é uma
doença grave que está sofrendo um alto crescimento nas sociedades e reflete, de
forma clara, não apenas a situação interna dos pacientes, mas o externo, a
quantidade de estresse decorrente do viver em sociedades cada vez mais ansiosas
e exigentes, em qualquer faixa de idade. Além, torna claro o papel da própria
sociedade em compor os fatores que desencadeiam as problemáticas vigentes que
proporcionam sensações negativas quanto a grupos e pessoas, interferindo assim,
em relações interpessoais.
Referências bibliográficas:
Integrantes
Ana Laura
Camila Santos
João Vitor Damascena
José Nilton
Rubens Henrique
Maurício Otávio
Mário Márcio
Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1 Referências bibliográficas:
Representações Sociais da Depressão em Jovens UniversitáriosCom e Sem
Sintomas para Desenvolver a Depressão. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/prc/v21n3/v21n3a18 >. Acesso em: 08
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Depressão, um sofrimento sem fronteira: representações sociais entre
crianças e idosos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusf/v8n2/v8n2a10 >. Acesso em: 08
mar. 2019
Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades
sociais. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/4010/401036064008.pdf > . Acesso em: 08
mar. 2019
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