• Nó Górdio 2
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  • domingo, 10 de março de 2019

    DEPRESSÃO E FATORES PSICOSSOCIAIS


                                          Resultado de imagem para depressão

    A depressão é um transtorno de humor grave frequente, e ocorre em todas as faixas etárias, sendo que as taxas parecem estar aumentando entre jovens e idosos. Por razões ainda não totalmente esclarecidas, a depressão vem se tornando cada vez mais frequente neste século. Talvez isso seja apenas o resultado de uma melhor identificação e de maior esclarecimento. Dados referentes ao ano de 2000, publicados na revista brasileira de psiquiatria, apontam um estudo epi-demiológico norte-americano – “Epidemiologic CatchmentArea Program”, no qual, 30% dos entrevistados relataram já terem se sentido deprimidos por no mínimo duas semanas, e 5% relata-ram já terem tido ao mesmo tempo um episódio de depressão. Distimia foi encontrada em 3% da população. Com esses numeros, de forma analoga, mas não concreta, podemos calcular que existem no Brasil aproximada-mente 54 milhões de pessoas que em um momento de suas vidas terão algum tipo de depressão, sendo que 7,5 milhões terão episódios agudos e graves, muitas com risco de suicídio. O transtorno de humor em questão, se não tratado corretamente, pode perdurar por muito tempo, com sério prejuízo à vida do paciente: trabalho, família e lazer ficam muito comprometidos, juntamente comum risco maior de suicídio. O tratamento bem-sucedido reduz esse período para 8 a 12 semanas, a depender do caso. Entretanto, a depressão, ainda que responda bem ao tratamento instituído, pode recidivare/ou cronificar. Tratamento medicamentoso constitui o fundamento da intervenção terapêutica para reduzir a duração e a intensidade dos sintomas do episódio atual e, principalmente, para prevenir sua recidiva. Nesse presente estudo, serão analisados três artigos abordando a importância social na vivência da depressão nas sociedades, a maioria com foco em pesquisas feitas na cidade de João Pessoa (PB). Além, será vinculado não apenas sintomas, possíveis causas, mas avanços em estudos que apontam relações entre esse transtorno de humor e aspectos históricos, culturais e sociais, visto que os diagnósticos estão cada vez mais presentes na sociedade brasileira e mundial.
    No primeiro momento será abordado o impacto familiar no contexto da depressão, a influencia não apenas genética, mas existente nos estilos de relações no primeiro grupo social das crianças. De acordo com estudos, encontra-se a importância na construção de práticas educativas familiares no comportamento dos filhos, denominado Estilo Pariental . Gomide aponta em seu modelo de possível metodologia de “molde comportamental” para influenciar no crescimento do indivíduo na sociedade, acontecimentos que facilitam ou dificultam a interação social. Esse modelo teórico apresenta sete práticas educativas que comporiam o Estilo Parental, sendo cinco relacionadas ao desenvolvimento de comportamentos antissociais e duas favoráveis ao desenvolvimento de comportamentos pró-sociais. O abuso físico, a punição inconsistente, a disciplina relaxada, a monitoria negativa e a negligência são consideradas estratégias educacionais negativas. Já as duas práticas educativas positivas, monitoria positiva e comportamento moral, dizem respeito ao uso adequado de reforçadores sociais, ao desenvolvimento da empatia e ao estabelecimento de contingências reforçadoras ou punitivas para o comportamento do filho onde se estabelecem regras claras e consequências (sanções) para o não-cumprimento das mesmas; são ações que promovem o desenvolvimento de habilidades pró-sociais.

    A literatura vem apontando, por um lado, uma correlação positiva entre depressão e estresse e as práticas educativas negativas de negligência, abuso físico, punição inconsistente, disciplina relaxada e monitoria negativa (Hoffman,1994; Patterson e cols., 1992; Petit e cols., 2001;Somer & Braunstein, 1999; Wood, McLeod, Sigman, Hwang & Cho, 2003).
    O modelo de Depressão Beck (Beck, Rush,Shaw & Emery, 1997) aponta para três características presentes no comportamento do indivíduo em depressão:

    a)      visão negativa em relação a si, ao mundo e ao futuro;
    b)      a partir destas visões desenvolvem-se padrões cognitivos mais ou menos estáveis determinantes dos comportamentos que serão por ele emitidos;
    c)       apresenta erros cognitivos como hipergeneralizações e raciocínios dicotômicos (péssimo/excelente). Estudos recentes (Gelfand, Teti, Messinger &Isabella,1995;Menegatti, 2002; Papalia & Olds, 2000;Patterson e cols., 1992; Pettit e cols., 2001) demonstram a correlação entre o uso das práticas educativas e a depressão parental. Pettit e cols. (2001) demonstraram que mães com depressão utilizam-se do controle psicológico como prática educativa. De acordo com Menegatti (2002), pais depressivos são menos carinhosos, responsivos e mais irritáveis, hostis e críticos. Como consequência sua prole tende a ser mais autocrítica e com dificuldades de regular suas emoções. A autora também observa que a depressão nos pais pode ser um antecedente para a prática parental negligente, podendo estar ligada à drogadição e ao comportamento anti-social em crianças e adolescentes.

    Outro fator relacionado à depressão está presente no estresse vivido por grande parte dos indivíduos nas sociedades contemporâneas. Malagris e Castro (2000) conceituam estresse como uma reação do organismo decorrente de alterações psicofisiológicas que acontecem quando uma pessoa enfrenta situações que podem irritá-la, amedrontá-la, excitá-la, confundi-la ou mesmo proporcionar intensa felicidade. Sendo assim, qualquer evento que favoreça uma quebra do equilíbrio do organismo exigindo adaptação pode ser fonte de estresse. Estes estressores podem ser externos e internos. Os externos são os acontecimentos que ocorrem na vida das pessoas e os internos são as características individuais adquiridas pelo sujeito em sua vida, o saber, padrão comportamental, crenças, capacidade de enfrentamento, sentimentos, cognições e habilidades sociais do sujeito.

    Nesse contexto, é importante salientar as habilidades sociais que passam a ser prejudicadas em indivíduos com depressão, afetando não somente o acometido, como toda sua vivência em sociedade. Aqui, encontra-se uma problemática interessante, visto que, a reação afetada nas habilidades sociais muitas vezes parte do próprio meio social. Como exposto anteriormente, o meio familiar pode moldar o comportamento das crianças e favorecer ou não para atitudes pró sociais, na mesma medida que pode tornar esse indivíduo alguém com dificuldades em viver em sociedade. Esse primeiro meio é apenas uma amostra do que pode ser uma sociedade e viver em instituições, seja escola, ambiente de trabalho ou viver em alguma doutrina. Dessa forma, é aqui que fica claro o primeiro impacto mutuo que o meio social pode causar em pessoas depressivas.

    Logo, não tão difícil encontrar pessoas depressivas com queixas relacionadas ao ambiente de trabalho ou de estudo, seja escolar ou universitário. Pesquisas realizadas no contexto acadêmico vêm registrando um índice elevado de casos de depressão, a exemplo de um estudo desenvolvido por Santos, Almeida, Martins e Moreno (2003) com o objetivo de identificar e mensurar os sintomas de depressão mais frequentes entre universitários. Este estudo apontou para a predominância de depressão em mulheres (97%) com idade média de 20anos. No total de uma amostra de 99 estudantes, 41%apresentaram grau de depressão variando de leve até grave, cujos sintomas mais frequentes foram autoacusação, irritabilidade e fadiga. Para o desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados um questionário sócio demográfico e o Inventário de Depressão de Beck (BDI).

    Fatores estressantes, principalmente de origem psicossocial, são enfatizados por Joca, Padovan e Guimarães (2003), o qual cita que cerca de 60% dos casos dos episódios depressivos são precedidos pela ocorrência desses fatores mencionados. Neste sentido, torna-se necessário investigar que situações ambientais predispõem um indivíduo à depressão, sendo as Representações Sociais um fio condutor nesta investigação, podendo contribuir para uma melhor compreensão deste transtorno impregnado de signos sociais com os quais os indivíduos estabelecem relações.

    A construção de representações sociais da depressão processa-se nas trocas de conhecimentos populares e  científicos, através de experiências grupais e sociais que se repetem ao longo da vivência dos indivíduos, ou seja, a elaboração de um conhecimento prático e compartilhado no grupo social implica necessariamente, na combinação de dois fatores, o das permanências e o das diversidades. As primeiras referindo-se à rede de representações construídas pelo homem, ao longo da sua existência, sendo veiculadas numa sociedade específica como produções sociais, enquanto as diversidades contêm representações subjetivas nos seus aspectos singulares, próprios do vivenciar da problemática em questão (Coutinho et al., 2003).
    Além do que é posto pelo meio social, é importante salientar que não existe faixa de idade para ocorrer a doença depressiva, aparecendo em qualquer período da vida por meio de fatores externos ou internos, como já citado. Na maioria dos casos os fatores externos tem prevalência, e são grande parte das queixas de pacientes, relatando fatores externos a “dores” internas.

    Com isso, podem-se trazer para pauta, relações entre depressão em extremos da vida, nas fases da infância e da, como denominada por alguns, melhor idade, ou, velhice. Os dados epidemiológicos, nas últimas décadas, têm demonstrado uma maior incidência de sintomas depressivos em crianças de seis a onze anos. Segundo Valla & Bergeron (1993), das crianças que procuraram serviços clínicos entre 1989 e 1990, a frequência foi de 25% na faixa etária mencionada. Quanto ao idoso, o reconhecimento clínico dessa síndrome, também é bastante complexo. Por um lado, os sintomas são muitas vezes atribuídos a processos genéticos, sociais, degenerativos cerebrais e a doenças físicas que contribuem em proporções variadas. Por outro, o fato de as pessoas idosas serem mais suscetíveis à depressão, sobretudo, quando perdem sua autoestima e começam a se considerar inúteis, um peso para a sociedade e para suas famílias. O convívio com a solidão, a perda de sentido de vida, a renúncia, a desistência, são desafios constantes no processo de envelhecimento.

    Portanto, a depressão é uma doença grave que está sofrendo um alto crescimento nas sociedades e reflete, de forma clara, não apenas a situação interna dos pacientes, mas o externo, a quantidade de estresse decorrente do viver em sociedades cada vez mais ansiosas e exigentes, em qualquer faixa de idade. Além, torna claro o papel da própria sociedade em compor os fatores que desencadeiam as problemáticas vigentes que proporcionam sensações negativas quanto a grupos e pessoas, interferindo assim, em relações interpessoais.


    Integrantes
    Ana Laura
    Camila Santos
    João Vitor Damascena
    José Nilton
    Rubens Henrique
    Maurício Otávio
    Mário Márcio

             Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1 


    Referências bibliográficas:

    Representações Sociais da Depressão em Jovens UniversitáriosCom e Sem Sintomas para Desenvolver a Depressão.  Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/prc/v21n3/v21n3a18 >. Acesso em: 08 mar. 2019.

    Depressão, um sofrimento sem fronteira: representações sociais entre crianças e idosos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusf/v8n2/v8n2a10 >. Acesso em: 08 mar. 2019


    Correlação entre práticas educativas, depressão, estresse e habilidades sociais. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/4010/401036064008.pdf > . Acesso em: 08 mar. 2019   

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