A genética por trás do comportamento suicida
O que seria o suicídio?
O
suicídio é um fenômeno multifatorial e que pode ser entendido como
uma ação consciente de determinado indivíduo para consigo mesmo
visando sua própria morte. Por ser multifatorial, são atribuídas
diversas causas que podem influenciar, conjuntamente, uma pessoa para
a realização de tal ato.
De
maneira geral, o suicídio é atribuído mais a causas psicológicas,
sociais, ambientais e emocionais. Após a publicação do livro “O
suicídio”, de Émile Durkheim, em 1897, a ênfase social atribuída
a esse comportamento foi imensa. Logo, as pesquisas com foco na
neurobiologia e na genética do suicídio tinham pouca repercussão e
as atribuições relacionadas a essas áreas eram minimizadas ou até
mesmo desprezadas.
No
entanto, com o avanço da tecnologia e da produção científica, a
medicina, a biologia e áreas correlatas progrediram bastante. Isso
se refletiu muito na questão genética e molecular. Partindo disso,
muitas doenças, distúrbios, transtornos e comportamentos até então
não relacionados às áreas das ciências naturais começaram a ser
analisados sob essa ótica.
Essa
lógica foi aplicada ao suicídio e a repercussão e a ênfase
biológica sobre esse comportamento aumentou significativamente. Um
comportamento multifatorial o qual quase não era visto a partir de
uma visão genética passou a ser alvo de pesquisas e estudos.
O
suicídio, também no âmbito da genética e das ciências naturais,
é explicado de forma complexa. Basicamente, não se pode associar a
realização desse ato a uma mutação cromossômica ou genética
específica de modo causal e determinante, como nas heranças
mendelianas, a exemplo genérico da síndrome de Down, causado por
uma trissomia do cromossomo 21. A genética do suicídio ainda é
alvo de muitos estudos e poucas conclusões específicas foram
determinadas. No entanto, uma coisa é certa: ele possui
significativamente predisposições genéticas, mesmo complexas, que
somadas a outras disposições (ambientais e sociais) podem aumentar
de modo intenso a tendência ou a tomada de decisão para o suicídio
em muitas pessoas.
O
início por trás da genética do suicídio
Como
já dito, o suicídio era amplamente estudado sob os vieses das
influências sociais, psicológicas e ambientais. Ele seria mais
determinado por condições e pressões resultantes de fora do
indivíduo do que por aspectos internos ou orgânicos. No entanto,
alguns casos chamavam a atenção. Pode ser ilustrado nessa situação
as altas concentrações do suicídio em certas famílias, como é o
caso da do escrtior Ernest Hemingway (Côrrea e Barrero, 2006). Ele
atentou contra a própria vida em 1961. Seu pai e sua irmã também
já haviam realizado esse ato e outros familiares também seguiram a
mesma influência.
Fatos
como esse despertavam um interesse em relação a possíveis
influências genéticas por trás de tal ato. Partindo de inúmeros
exemplos semelhantes ao da família do escritor, as contribuições
genéticas não poderiam ainda serem ditas como certas. Disso, outros
estudos, visando encontrar correlatos genéticos na manifestação do
suicídio foram feitos.
Partindo
de informações mostrada no livro da autora Jamison (2010), vários
estudos abordando a temática do suicídio em famílias foram feitos
e a correspondência entre tentativas e o próprio suicídio entre
parentes daqueles que tinham tentado ou completado o ato foram
bastante elevadas. Novamente, segundo Jamison (2010) “em estudos de crianças
e adultos, bem como em portadores de doença psiquiátrica, os que se
matam são pelo menos duas ou três vezes mais propensos a ter uma
história de suicídio na família do que os que não o fazem”.
O
Estudo Brent: nesse estudo, realizado por Brent e colaboradores,
como mostra Côrrea e Barrero (2006), foram avaliados os familiares
de adolescentes os quais haviam se suicidado com os familiares de
adolescentes de um grupo controle ao qual não haviam cometido o
referido ato. Do primeiro grupo, relativos aos adolescentes suicidas
(58), pertenciam a amostra 203 parentes de primeiro grau e 607 de
segundo grau. Do segundo grupo, dos adolescentes que não se
suicidaram (55), tinham 207 familiares de primeiro grau e 589 de
segundo. Foi possível constatar uma maior ocorrência desse fenômeno
entre os parentes dos adolescentes suicidas.
O
Estudo Egeland e Sussex: nesse estudo, realizado por Egeland e
Sussex, encontrado em Côrrea e Barrero (2006), a população Amish
foi analisada com foco nos suicídios ocorridos entre eles. Os Amish
são um grupo religioso localizado em países como os Estados Unidos
da América e o Canadá, caracterizado por seus costumes religiosos
bastante conservadores, um estilo de vida comunitário e isolado das
populações em geral. Em termos de ambiente propício ao surgimento
do fenômeno autodestrutivo, essa população seria basicamente
imune: eles são altamente religiosos e coesos socialmente, algo que
evitaria o surgimento do suicídio, conforme Durkheim (Durkheim,
2014). No entanto, o suicídio ainda ocorria nessas comunidades. E
além disso, concentrava-se em núcleos familiares específicos.
Foram
revistos e estudados os suicídios ocorridos em um intervalo de tempo
de 100 anos nessa determinada população Amish. Dentre os 26
suicídios, 16 deles eram pertencentes a apenas 4 famílias, o que
sugere fortemente indícios de influências genéticas sobre tal
comportamento.
Quando
se pensa em estudar a influência da genética em certos distúrbios,
doenças, transtornos ou comportamentos, um primeiro foco de pesquisa
direciona-se para irmãos gêmeos. Dentro os gêmeos, existem os
monozigóticos e os dizigóticos. A priori, sabe-se que os primeiros
compartilham basicamente 100% do DNA, enquanto que os segundos apenas
50%. Logo, se o fenômeno estudado, no caso o suicídio, tivesse
influência dos genes, a expressão de tal ato seria maior dentro os
gêmeos monizogóticos.
Vários
estudos foram feitos relacionando a questão dos gêmeos e um
possível comportamento suicida. Haberdlant, em estudo verificado em Côrrea e Barrero (2006), realizou sua pesquisa com
149 gêmeos, dentre os quais no mínimo um havia tirado a própria
vida. Dentre os pares que cometeram suicídio (9 casos), todos eram
monozigóticos. Entre 98 pares dizigóticos, não se teve
concordância para o fenômeno.
Um
outro estudo que aborda essa questão é o de Juel-Nielsen e
Videbach, o qual foi citado na obra Suicídio: uma morte evitável
(Côrrea e Barrero, 2006). Nessa pesquisa, dos 19 pares de
monozigóticos, 4 cometeram suicídio. Entre os dizigóticos, 58
pares, nenhum se matou.
Roy
e colaboradores, um outro estudo verificado em Côrrea e Barrero
(2006), mostra a realização de uma pesquisa com uma metodologia,
dessa vez, diferente. Eles resolveram avaliar as tentativas de
suicídio entre gêmeos (35 casos) cujo seu par já havia se
suicidado. Em sua conclusão, eles mostram que 10 dentre 26 gêmeos
monozigóticos atentaram contra sua própria vida, mas dos 9 gêmeos
dizigóticos, nenhum tentou o suicídio.
Uma
outra forma de se procurar influências genéticas e não ambientais
sobre parentes é voltando-se para os casos de adoção. Caso filhos
que compartilhem apenas laços genéticos com os pais biológicos
venham a se suicidar e constate-se que alguns de seus parentes biológicos
também realizaram o ato, ao passo que os parentes adotivos não tenham tido números significativos para o fenômeno, a influência genética acaba por ser
confirmada mais uma vez.
Foi
feito um estudo baseando-se nos registros de adoção de Copenhague
entre 1927 e 1947. Foram examinados 56 adotados que se suicidaram e
57 adotados que não se suicidaram. O suicídio foi mais presente
entre os parentes biológicos do que com os dos adotivos. Em relação a
dados, 12 entre os 269 parentes biológicos se suicidaram, enquanto
que nenhum dos 147 parentes adotivos se suicidou., conforme dados
verificados nas obra sobre o suicídio de Côrrea e Barrero (2006) e
Jamison (2010).
Partindo-se
de todos esses estudos, percebe-se claramente, ao mínimo, uma
predisposição genética para o complexo fenômeno do suicídio.
Apesar de, como já informado, não se ter regiões ou genes
definidos ou específicos para o suicídio, algumas regiões são
amplamente estudadas e algumas apresentam indícios de fazerem parte
dessa maquinaria genética relativa ao suicídio.
A
genética molecular por trás do suicídio
Em
termos de genética, as síndromes, mutações e transtornos são
ocasionados por mutações, que são basicamente alterações na
sequência de nucleotídeos da estrutura do DNA. Elas podem ser
mutações cromossômicas ou gênicas. O comportamento suicida é
estudado sob o viés de alterações gênicas, uma vez que elas são
mais sutis. Elas se caracterizam por estarem relacionadas a genes
específicos. Elas podem ser de adição ou subtração, quando
altera o código genético e estabelece uma nova sequência de bases,
que poderá alterar o aminoácido da cadeia de proteínas, podendo
alterar a proteína a ser formada ou inativá-la. Tem-se também a
por substituição, a qual uma base nitrogenada purina é trocada por
uma primidida.
Dadas
essas informações, pode-se partir para a questão da genética
molecular por trás do suicídio. Como já explicitado, o suicídio
posui um padrão complexo em suas relações genéticas, isto é, não
se tem genes definidos e específicos para o surgimento desse
comportamento, apenas genes candidatos que podem estar associados.
Uma outra questão é a não existência de apenas um fator
biológico/orgânico para a sua expressão, mas uma certa combinação
de fatores, como sugerido hipoteticamente, a associação de mutações
gênicas paralelas.
Dando
início aos estudo genéticos/biológicos sobre tal fenômeno, é
interessante, antes de partir-se para as questões moleculares
específicas, ter ciência do estudos realizado por alguns
pesquisadores americanos. J. Dee Higley, psicólogo, e colaboradores
no National Institute of Alcohol Abuse and Alcoholism reazliaram uma
pesquisa (Jamison, 2010) avaliando os níveis do ácido 5-HIAA no
líquido cefalorraquidiano. Eles descobriram que os macacos com
baixas concentrações apresentavam comportamentos mais agressivos e
tempos depois a maioria dos que haviam morrido ou desaparecido
pertenciam a esse grupo. A genética entra nesta situação uma vez
que os genes são em parte responsáveis pelo funcionamento da
serotonina no cérebro. Como apontam estudos, macacos rhesus que
foram criados sem os seus progenitores mantinham níveis de 5-HIAA no
LCR muito semelhantes aos deles. Outro fator seria os aspectos
agressivos do comportamento, muitos hereditários, ligados a genes
específicos, a exemplo da enzima triptofano hidroxilase (TPH),
associada com a própria questão dos níveis de 5-HIIA no LCR, o que
influencia no comportamento suicída (Jamison, 2010).
De
fato, um grande número de estudos associam o comportamento suicida a
pequenas concentrações de 5-HIAA no cérebro, ou no mínimo, a
riscos de tentativas de suicídio, conforme aponta Jamison, em seu
livro, Quando a noite cai (2010):
“Maria Âsberg e seus colegas no Instituo Karolinska, na Suécia, bem como cientitstas de outros países, mostraram, por exemplo, que se o 5-HIAA é medido no LCR em pacientes com distúrbios de ânimo após terem tentado se matar, aqueles com concentrações muito baixas do metabólito serotonina são muito mais propensos a morrer de suicídio dentro de um ano do que aqueles com níveis mais altos. É possível que um nível baixo de 5-HIAA esteja correlacionado com uma tentativa a agir impulsiva e violentamente enquanto em turbilhão emocional agudo ou durante um episódio grave de doença psiquiátrica.”
Sendo
assim, quais são os principais genes e sistemas biológicos
relacionados ao comportamento suicida?
A
Enzima Triptofano Hidroxilase (TPH)
A
TPH é a enzima taxa-limitante na produção de serotonina. Com posse
desse conhecimento, estudos foram sendo feito com o intuito de
relacionar alterações genéticas na TPH e possíveis tendências ou
atos suicidas.
A
TPH é codificada por um gene ao qual fica situado na região do
braço curto do cromossomo 11 (11p15.3-p14). Existem inúmeros
polimorfismos desse gene, porém o foco das pesquisas são os A779C e
o A218C. A questão do polimorfismo A779C é a entrada da citosina no
lugar da adenina na região 779 do íntron 7; no caso do A218C,
ocorre a mesma situação, porém na região 218 do íntron 7.
De
modo geral, alguns estudos concluem que há relação entre esses
polimorfimos e o comportamento suicida e outros não. Dos que
encontraram relação, uns falam da ligação entre o alelo C e o
comportamento suicida, outros do alelo A. As razões para resultados
discordantes quanto ao TPH nesse estudo podem ser explicadas por
conta de os polimorfismos A779C e A218C serem intrônicos, não
alterando a expressão gênica. A outra explicação estaria ligada
ao fato dessa mutação nesses dois polimofirmos estar associada a
outra mutação em um outro local gênico associado à enzima
triptofano hidroxilase. Outra questão é o tamanho das amostras a
serem estudadas, pois, como já foi dito, o suicídio no viés
orgânico e genético é explicado por diversas variáveis e cada
locus gênico estaria associada a apenas certa parte da expressão
gênica, conforme pode ser verificado em vários estudos citador na
obra Suicído: uma morte evitável (Côrrea e Barrero, 2006).
Levando em conta esses estudos sobre TPH e o alelo A218C, Rujescu e colaboradores , através de uma meta-análise com outros estudos, de acordo com o livro de Côrrea e Barrero (2006) mostraram uma pequena influência do alelo A em caucasianos, resultando em comportamento suicída. Rujescu et al e Bellivier et al., por estudos de meta-análise, que podem ser vistos na obra Suicídio e comportamentos autolesivos (Saraiva et al., 2014) também constataram uma ligação do comportamento suicida e o alelo A do polimorfismo A218C. Li e He, de acordo com a mesma obra citado anteriomente (Saraiva et al., 2014) mostraram, também, influências dos dois polimorfismos principais da TPH e o suicídio. Já Lalovic e Tureck, através de outra meta-análise, dessa vez verificada nas obras de Saraiva et al. (2014) e Côrrea e Barrero (2006) não mostraram associação. No entanto, afirmaram que os polimorfimos poderiam estar associados a traços do comportamento suicida e não ao suicídio em si. Depois, Staner e colaboradores, como pode ser lido em Côrrea e Barrero (2006), corroboraram a pesquisa anterior mostrando relação com os polimorfismos da TPH e comportamento impulsivo e agressivo, o que predisporia o indivíduo ao suicídio.
Levando em conta esses estudos sobre TPH e o alelo A218C, Rujescu e colaboradores , através de uma meta-análise com outros estudos, de acordo com o livro de Côrrea e Barrero (2006) mostraram uma pequena influência do alelo A em caucasianos, resultando em comportamento suicída. Rujescu et al e Bellivier et al., por estudos de meta-análise, que podem ser vistos na obra Suicídio e comportamentos autolesivos (Saraiva et al., 2014) também constataram uma ligação do comportamento suicida e o alelo A do polimorfismo A218C. Li e He, de acordo com a mesma obra citado anteriomente (Saraiva et al., 2014) mostraram, também, influências dos dois polimorfismos principais da TPH e o suicídio. Já Lalovic e Tureck, através de outra meta-análise, dessa vez verificada nas obras de Saraiva et al. (2014) e Côrrea e Barrero (2006) não mostraram associação. No entanto, afirmaram que os polimorfimos poderiam estar associados a traços do comportamento suicida e não ao suicídio em si. Depois, Staner e colaboradores, como pode ser lido em Côrrea e Barrero (2006), corroboraram a pesquisa anterior mostrando relação com os polimorfismos da TPH e comportamento impulsivo e agressivo, o que predisporia o indivíduo ao suicídio.
De
modo geral, percebe-se alguma influência da TPH em algum nível no
fenômeno do suicídio. É mister que se façam mais estudos
abordando essa enzima e a real influência dela no suicídio, bem
como quais áreas estariam de fato sendo afetadas pelas mutações
gênicas e como elas se expressariam de modo diferente em indivíduos
predispostos ao suicídio.
Sistema
serotoninérgico e suas relações com o suicídio
A
regulação do humor e de comportamentos é bastante afetada pelo
sistema serotoninérgico. O neurotransmissor chamado serotonina tem
alta influência no sistema nervoso central. Ela está em completa
relação com distúrbios de sono, agressão e até mesmo o suicídio,
conforme nos mostra Jamison (2010). Existem focos de estudos
associando, também, esse neurotransmissor a comportamentos suicidas.
Por tudo isso, percebe-se que uma associação desse sistema ao
fenômeno complexo do suicídio foi logo feita. Um dos precursores
foi a pesquisa de Asberg e colaboradores, encontrado na obra de
Saraiva et al. (2014), os quais evidenciavam uma baixa concentração
do ácido 5-hidroxi-indolacético (5-HIAA), um dos compostos que dão
origem à serotonina, no líquido cefalorraquidiano (LCR), conforme
foi apontado no início da discussão desse tópico outro estudo,
realizado por Jee. Outros estudos mostram, também, que suicidas
possuíam menos transportadores de serotonina em regiões específicas
do cérebro, como pode ser visto no livro Suicídio e comportamentos
autolesivos de Saraiva et al. (2014).
Sistema
serotoninérgico: gene SLC6A4
O
transportador de serotonina (5-HTT) regula os níveis desse
neurotransmissor. Esse transportador está relacionado com a
recaptação da serotonina. Logo, fica evidente a importância e o
foco dos estudos relativos ao gene que expressa o 5-HTT. Esse gene, o
SLC6A4, encontra-se no cromossomo dezessete. O foco dos estudos
residiu no polimorfismo comum Ins/Del de 44 pares de bases, que tem
como resultado os alelos longo e curto. O alelo curto está
relacionado a baixa atividade de transcrição e recaptação,
enquanto o longo a uma alta atividade. Vários estudos fazem uma
relação entre esse polimorfismo e a presença de atos e
comportamentos ligados ao fenômeno do suicídio.
Na
linha desses estudos que enfatizam essa associação, alguns mostram
que o alelo curto pode estar associado ao suicídio e a métodos mais
violentos ou mais letais. Já nas pesquisas envolvendo o grupo de
Humberto Côrrea (Côrrea e Barrero, 2006), encontrou-se associação
entre a área degenerada do gene SLC6A4 e o suicídio. Por tudo o que
foi visto, mostra-se certa associação entre o alelo curto e também
a atos mais violentos, que resultam no suicídio. Porém essas
questões mostra mais uma vez o fator de herança complexa, mostrando
que o suicídio não seria associado a apenas alguma região
específica.
Uma
meta-análise envolvendo doze pesquisas sobre o SLC6A mostrou uma
certa ligação entre esse polimorfismo e o suicídio, bem como uma
outra meta-análise, envolvendo 39 estudos efetuados nas populações
da Europa e Ásia , de acordo com Saraiva et al. (2014),
Sistemas
gabaérgico e glutamatérgico
Alguns
estudos feitos com pessoas as quais cometeram suicídio apontaram
para a importância dos sistemas ligadas aos ácidos aminobutírico
(GABA) e glutamato. Estes dois compõem os neurotransmissores ligados
à inibição e excitação. O GABA é formado por alguns subgrupos
de receptores. Pesquisas mostram que certas alterações nesses
subgrupos dos receptores GABA são associadas a vítimas de suicídio.
Outra modificação foi relacionada ao transportador do GABA (SLC6A1)
e vítimas de suicídio. Da mesma forma que ocorre com o GABA, o
glutamato possui subunidades e alterações nestas foram vistas em
pessoas que se suicidaram, conforme lido na obra de Saraiva et al.
(2014).
Maquinaria
exocitótica
Um
dos processos mais importantes no que tange a neurotransmissão
sináptica neuronal está relacionada com a fusão de membranas. Um
importante complexo muito relacionado à doenças psiquiátricas é o
SNARE. Estando em função direta com a liberação dos
neurotransmissores, que são relacionados ao comportamento suicida,
problemas nesse complexo podem estar relacionados a esse fenômeno,
uma vez que os neurotransmissores não estariam mais atuando
normalmente no indivíduo.
Outro
achado ligado ao complexo SNARE diz respeito à proteína SNAP-25.
Nas pessoas que cometeram suicídio, foi encontrado maiores
quantidades dessa proteína. Ligados a isso, outros estudos mostram
alterações ligadas a expressões dos genes de proteínas sinápticas
em pessoas que se mataram, que pode ser lido e verificado nas obras
de Saraiva et al. (2014) e Côrrea e Barrero, (2006).
Neurotrofinas
Neurotrofinas
são moléculas ligadas a sobrevivência neuronal e plasticidade
sináptica e se dividem em duas famílias: fator de crescimento de
neuronal (NGF) e fator neurotrófico derivado do cérebro (BMDF), bem
como neurotrofina-3 (NT-3) e neurotrofina-45 (NT-4/5); há também o
fator neurotrófico derivado da gia (GDNF). Elas podem atuar
isoladamente ou em conjunto como sinalizadores celulares. Além disso
atuam em dois receptores: o tropomiosin-related kinase (trk) e no
pan-75 neurotrophin (p75ntr). Com isso, foi visto em estudos post
mortem em vítimas de suicídio, encontrado na obra Suicídio e
comportamentos autolesivos (Saraiva et al., 2014)) certa alteração
nos níveis de neurotrofinas e seus receptores. Estudos com microray
mostram uma diminuição no NTRK2 e no BDNF, este que regula os
sistemas serotoninérgico, glutamatérgico e dopaminérgico. O gene
BDNF tem sua localização no cromossomo 11q13. Seu polimorfismo mais
estudado é o Val66Met, o qual tem substituída uma valina por uma
metionina no códon 66 da proteina pró-BDNF, gene que por sua vez
está ligado a várias doenças psiquiátricas com indivíduos que
tentaram o suicídio, seguindo Saraiva et al. (2014).
Os
próximos passos
Por
tudo o que foi mostrado, desde os estudos iniciais com famílias e
gêmeos até os mais modernos relativos ao estudo das bases
moleculares do suicídio, constata-se que existe, sim, um componente
genético e orgânico ligado a esse comportamento. No entanto, as
pesquisas ainda não sabem dizer especificamente qual seria essa
região ou influência genética. Conforme Jamison (2010), ter
predisposições genéticas para o suicídio não implica
necessariamente na expressão desse comportamento. Apenas diz que
somado a outras situações da vida do indivíduo, a tomada de
decisão para esse ato é aumentada significativamente. Como cita a
autora, a doença de Huntington é totalmente genética, logo ela irá
certamente se desenvolver em indivíduos com tal genética. O
suicídio é mais complexo, e é necessária a interação de vários
fatores. Levando em conta que esse comportamento abarca quase 800 mil
mortes por anos, segundo dados da OMS, encontrado no site sobre
prevenção e suicídio (http://www.www.prevencaosuicidio.blog.br/),
é mister que além dos procedimentos já adotados em vistas de
entender e reduzir o suicídio, invista-se nas pesquisas
neurobiológicas desse fenômeno. Desse modo, com uma abordagem de
fato interdisciplinar, indo desde as ciências humanas às ciências
naturais (moleculares, químicas, médicas), tenha-se uma compreensão
mais profunda de tal ato e que medidas preventivas, após isso, sejam
criadas e as taxas anuais sejam significativamente reduzidas.
Integrantes
Artur Gabriel Gomes de Moraes
José Luis Amorim
Leonardo Luis Dias Rocha
Matheus de Sousa Cysneiros
Mayriane Santos Silva
Nilo Antunes Teixeira Junior
Silvio Gabriel Linhares Guimarães
José Luis Amorim
Leonardo Luis Dias Rocha
Matheus de Sousa Cysneiros
Mayriane Santos Silva
Nilo Antunes Teixeira Junior
Silvio Gabriel Linhares Guimarães
Acadêmicos do segundo período de Psicologia - UNIVASF 2018.1
Referências
Jaminson,
K. R. Quando a noite cai: entendendo a depressão e o suicídio. 2
ed. Rio de Janeiro. Gryphus, 2010.
Côrrea,
Humberto.; Barrero, S. P. (Coords). Suicídio: uma morte evitável.
São Paulo. Editora Atheneu, 2006
Saraiva,
C. B.; Peixota, B.; Sampaio, D. (Coords). Suicídio e Comportamentos
Autolesivos – Dos Conceitos à Prática Clínica. Lisboa. Lidel,
2014.
Durkheim, Émile. O Suicídio. 1a. ed. São Paulo: Edipro, 2014.
Durkheim, Émile. O Suicídio. 1a. ed. São Paulo: Edipro, 2014.
Fontenelle,
Paula. Dados mundiais sobre o suicídio: estatísticas mundiais.
Disponível em: http://www.www.prevencaosuicidio.blog.br/dados.
Acesso em 09 maio de 2019
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