“Sem chão”. Esse é o sentimento frequentemente experimentado e expressado pelas pessoas no momento em que são
diagnosticadas com algum tipo de câncer. Após o choque inicial, é hora de se
preparar para uma gama de mudanças que virão a partir daquele momento. Mudanças
físicas, emocionais e sociais que não se restringem apenas o paciente em si,
mas também envolvem as pessoas que estão a sua volta, principalmente os mais
íntimos. Se para um adulto enfrentar o câncer já é muito difícil, para a
criança tende a ser ainda mais doloroso e perturbador. Pacientes e familiares
passam a conviver com incertezas, limitações na compreensão do diagnostico,
inquietação quanto ao futuro e desenvolvimento da criança, ansiedade, estresse
e angustia.
Vamos no ater aqui
especificamente a leucemia que está entre um dos tipos de câncer mais
recorrentes na fase infantil, analisando brevemente os impactos vivenciados sob
o ponto de vista psicossocial. Primeiramente é importante atentar-se para a
dificuldade de inserção ou reinserção escolar da criança após o diagnostico. Os
familiares muitas vezes temem a integridade física e emocional da mesma frente
aos seus colegas, e não raramente optam por mantê-la em casa. Muitas vezes há recomendação medica para tal, justificada pela deficiência imunológica da criança, condição comum nesse
contexto. Importante observar que a privação do mundo escolar repercute não só
no desenvolvimento cognitivo da criança, mas também na interação social da
mesma. Para wallon— psicólogo e médico Francês — o processo de evolução
infantil não depende apenas da sua capacidade biológica, mas também do ambiente
o qual está inserido. Isto é, o equipamento orgânico existe, mas precisa ser
estimulado pelo meio, para que através dessa interação desenvolvam-se as
respectivas potencialidades. Nesse sentido observa-se um inegável prejuízo no
convívio dessa criança. Ela estará privada da realização de varias atividades e
prazeres da infância.
Referente aos impactos
infrafamiliar é importante abordar a necessidade proeminente de que se tenha um
cuidador principal - vamos assim chamar— para essa criança, já que a mesma
necessita de cuidados especiais e diários. Esse papel, via de regra é
desenvolvido pela mãe que freqüentemente abdica do seu trabalho e da sua vida
social para exercer tal função. Esse movimento geralmente provoca queda no
rendimento mensal familiar em um momento que as despesas costumam expandir em
virtude de compras regulares de medicações, deslocamentos a hospitais, entre
outros fatores. A família pode vir a enfrentar situações financeiras e
emocionais delicadas corroborando para possíveis desentendimentos e conflitos
internos. Não esporadicamente encontram-se casos em que a atenção e preocupação—
dos pais, por exemplo— encontra-se altamente concentrada naquela criança com
câncer, alterando a disponibilidade de atenção e tempo para outros filhos ou
membros da família que podem sentir-se em situação de desamparo e deslocação.
Outro aspecto importante diz
respeito à autoestima desse ser adoecido. A sua aparência modificada rapidamente
é determinante para que surjam sentimentos de ansiedade e insegurança. O
paciente passa a lidar com olhares curiosos e desinformados da população, assim
como vivenciar situações de desconforto em virtude das suas características
físicas, como permanecer sem cabelos por um período. Essas condições aliadas a
fatores estressores a qual a criança já está submetida tendem a gerar
sentimentos de angustia e inferioridade, abalando intensamente a maneira como a
criança desenvolve a sua autoimagem e o seu autoconceito, isto é, a percepção
que a criança tem de si mesma no meio em que ela se encontra.
Para mais, as crianças portadoras
de leucemia necessitam de internações constantes e longas, que impossibilitam a
convivência e o conforto do seu próprio lar. Nesse momento, surgem sentimentos
de medo, tanto da dor— da doença em si ou dos procedimentos— quanto da
separação com os pais, devido seu estado de vulnerabilidade física e emocional.
É importante ressaltar a importância do apoio familiar e da equipe medica no
que se refere à diminuição do sentimento de desamparo experimentado pela
criança, as equipes multidisciplinares são indispensáveis ao longo do processo,
disponibilizando suporte ao paciente e sua família.
Alcina Gonçalves dos Santos
Igor Fellipe da Silva Aguiar
Itamar Ferreira de Sousa
Luana Dantas de Freitas
Maria das Graças Pereira Pacheco
Maria de Fátima Souza
Natan Damasceno Sudário
Thaís Macêda dos Santos
Referencias
Santos, Daniella Patarello dos.
Repercussões do câncer infantil na vida da criança e nos subsistemas
familiares: revisão integrativa de literatura. Tese (trabalho de conclusão de
curso. Graduação em enfermagem) — universidade de Brasília. Brasília. 2016.
Wallon, Henri. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia
comparada. 1° Ed. Petrópolis, RJ. Vozes. 2008.
Marques, Goreti. A família da criança com câncer: necessidades
sócio-econômicas. Revista gaúcha de enfermagem. 2017; 38(4): 2016-0078.
http//dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2017.04.2016-0078.
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