• Nó Górdio 2
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  • domingo, 17 de março de 2019

    Envelhecimento e estética


    O QUE É ENVELHECER PARA VOCÊ?

    Você já parou pra pensar no envelhecimento? Sobre o seu e das pessoas ao seu redor?
    De acordo com Freitas (et al,2013) o envelhecimento apesar de ser um fenômeno comum aos seres vivos, ainda hoje predomina-se alguns pontos ambíguos a respeito da dinâmica e natureza desse processo. A incapacidade de mensurar este fenômeno está relacionado a dificuldade de definir a idade biológica e os múltiplos aspectos que compõem o envelhecimento. Dentro de uma perspectiva biogerontológica:
    O envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte (FREITAS, et al. 2013, p.72).

    O envelhecimento é uma questão significativa, inerente à existência humana e merecedora de olhar de natureza compreensiva. A psicologia fenomenológica ajuda a entender este processo dentro de uma atitude fenomenológica, que é caracterizada pela busca do fenômeno, daquilo que surge por si só, daquilo que aparece e se revela. Esse fenômeno considera as experiências concretas de cada indivíduo, respeitando sempre o seu subjetivo. Para algumas pessoas o envelhecimento pode estar associado as seguintes respostas:
    É ter cabelos brancos e rugas. É “ganhar” sabedoria. É perder a vontade de viver. É aproximar-se da morte. É tornar-se mais teimoso. É construir um patrimônio. É perder capacidade física. É ver a vida de uma maneira mais madura. É se aceitar.
    Todavia, para se compreender o fenômeno é preciso renunciar tudo aquilo que é particular do sujeito, de modo que lhe seja permitido uma maior liberdade na compreensão da realidade deste fenômeno. De acordo com Husserl, a atitude fenomenológica procura entender o sujeito suspendendo os pré-conceitos, pré-juizos da vida cotidiana, enquanto a atitude natural se contenta com a crença do que é posto a realidade exterior. Por isso, é preciso realizar a epoché, ou seja, pôr o mundo entre parênteses, suspender todo e qualquer juízo da realidade.
    Essa atitude é necessária para se distanciar das atitudes que estão impregnadas pelo pensamento já formado a priori, entendendo que há inúmeras possibilidades de envelhecer e que cada pessoa tem uma história que o antecede, assim como um presente e um futuro a ser construído, e por isso que para entender como é o processo de envelhecimento devemos voltar as coisas mesmas, perguntando para os indivíduos como eles se enxergam nesse processo.
    O fato de como o indivíduo se percebe é muito importante, pois é a partir desse conceito que a autoestima está relacionada, visto que a autoestima é denominada como um conjunto de pensamentos e sentimentos referentes a si mesmo, caracterizado como um aspecto avaliativo do autoconceito, podendo ser positivo ou negativo.
    O desenvolvimento da autoestima está diretamente relacionado a aceitação dentro do campo social e ao reconhecimento positivo de pessoas consideradas importantes para o indivíduo (Hewitt, 2009, citado por Hutz & Zanon, 2011). O nosso contexto social, capitalista e de valorização do novo, tende a colocar o idoso numa posição de desvalorização. Essa desvalorização é estrutural e consequência da velocidade em que tudo é consumido na modernidade. O novo é ideal e, por isso, o velho é desqualificado (Schneider & Irigaray, 2008). Os padrões de beleza da atualidade esperam que as pessoas estejam sempre belas e jovens, ignorando aspectos muito importantes, como a passagem do tempo. Essa imposição estética ignora a possibilidade de valorizar os indivíduos como eles são, fazendo-os se direcionar a padrões que por vezes são inalcançáveis. A partir desses padrões e da nossa relação com o mundo, desenvolvemos aquilo que chamamos de self ideal, ou “como desejamos ser”.
    O autocuidado é uma atividade voltada para o desenvolvimento de bem estar e saúde do próprio indivíduo. Podemos entender os processos de embelezamento como um processo de autocuidado em que o indivíduo se direciona a buscar meios que melhorem o seu autoconceito. No entanto, uma preocupação exacerbada pode ser adoecedora. Como dito, os padrões estéticos ignoram processos naturais da vida. Ir em busca desses padrões pode gerar frustração e problemas de autoconceito. Quando o nosso autoconceito e nosso self ideal estão muito diferentes pode acabar gerando uma situação de adoecimento emocional. Esse adoecimento é causado pela distância entra aquilo que se quer ser e aquilo que se é. Uma baixa autoestima também pode afetar, de maneira negativa, o nosso autoconceito e a partir dessa auto estima baixa se pode desenvolver percepções distorcidas de si mesmo.
    É importante, para o desenvolvimento de uma melhor saúde, que tenhamos autoconsideração positiva. Nossa autoestima está diretamente relacionada a aceitação e valorização dos outros por nós, mas isso não significa necessariamente que só nos sentiremos bem se formos elogiados. É importante que o indivíduo consiga entender o que é ser-no-mundo e ser-com-outros e o faça de maneira positiva e acolhedora. É necessário que o indivíduo entenda que é afetado em suas relações e também afeta outras pessoas e, por isso, desenvolva estratégias de autocuidado em relação ao desenvolvimento de uma melhor auto estima. Nas nossas estruturas sociais, as pessoas idosas são colocadas à margem, muitas vezes nem podendo decidir por si. É necessário que tenhamos a consciência de dar espaço para essas pessoas, para que elas possam ser-no-mundo, agindo livremente e sendo em totalidade com o mundo, se criando e recriando, e ser-com-outros, sendo ouvida e acolhida para que posso estar plenamente nas suas relações.



    INDICAÇÃO AO LEITOR

    Grace and Frankie 
    Uma série sobre a vida de duas mulheres , que juntas vão lidando com o processo do envelhecimento, atreladas por uma amizade que as unem, e ajudam a desenvolverem seus papeis sociais.

    https://www.minhaserie.com.br/novidades/44827-grace-and-frankie-netflix-define-data-de-estreia-da-5-temporada


    A narrativa mostra do ponto de vista de cada uma delas de como esse processo de envelhecimento é dado e quais as dificuldades encontradas por elas em continuarem com suas atividades. Tendo suas próprias percepções de mundo e de personalidades distintas, elas conseguem se expressar de modo único, nos fazendo ter aceso aos fenômenos vivenciados por elas e as interpretações que eles possuem em suas vidas.


    https://www.wbur.org/hereandnow/2015/05/07/lily-tomlin-jane-fonda-grace-frankie

    Desvinculada na sua totalidade com os processos negativos do envelhecimento , a Netflix conseguiu abordar temas relevantes e de singularidade para as perspectivas das protagonistas, através das suas relações de adaptação e do seguimento dessa nova demanda apresentada em suas vidas, e de como lidar com ela. Revela-se para o público um olhar desconstruído sobre a imagem genérica que se tem sobre a velhice.


    https://www.healthline.com/health/rheumatoid-arthritis-sex-and-vibrators#1


    Abordando  temas como: percepção estética, consciência de idade, sexo, empreendedorismo, casamento, saúde,  família, amor, dentre tantos outros, a série passa a versatilidade  que é essa construção pessoal e social do ser no mundo, e como esse ser consegue se encaixar ou não em determinados ambientes e situações. A Série conversa com públicos de várias gerações, sendo acessível e funcional em passar sua mensagem. É de extrema importância temas como estes estarem sendo mostrados e debatidos para uma percepção mais clara sobre o envelhecer.

     

    https://deadline.com/2016/06/grace-and-frankie-jane-fonda-lily-tomlin-on-set-emmys-1201768012/


    REFERÊNCIA
    Chaim, J., Izzo, H. & Sera, C. T. N. (2009). Cuidar em saúde: Satisfação com a imagem corporal e autoestima de idosos. O Mundo da Saúde, 33(2), 175-181.
    Fadiman, J.; Frager, R. Teorias da Personalidade. 1986.
    Hutz, C. S. & Zanon, C. (2011). Revisão da adaptação, validação e normatização da escala de autoestima de Rosenberg: Revision of the adaptation, validation, and normatization of the Roserberg self-esteem scale. Avaliação Psicológica, 10(1), 41-49.

    Schneider, R. H., & Irigaray, T. Q. (2008). O envelhecimento na atualidade: aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Estudos de Psicologia, 25(4), 585-593.

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