Um olhar psicogenético sobre os transtornos alimentares
Transtorno alimentar (TA) é um transtorno mental que se define por padrão de comportamentos alimentares desviantes que afeta negativamente a saúde física ou mental do indivíduo.São considerados como patologias e descritos detalhadamente pelo CID 10, DSM IV e pela OMS. Incluem transtorno de compulsão alimentar periódica em que as pessoas ingerem uma grande quantidade de alimentos num curto período de tempo; anorexia nervosa, em que as pessoas comem muito pouco e, portanto, têm um baixo peso corporal; bulimia nervosa, em que as pessoas comem muito e, em seguida, tentam livrar-se da comida; pica, em que as pessoas comem produtos não-alimentares; transtorno de ruminação, em que as pessoas regurgitam o alimento; transtorno alimentar restritivo em que as pessoas possuem falta de interesse por comida; e um grupo de outros distúrbios alimentares específicos e outros distúrbios alimentares não-específicos
Os transtornos alimentares são patologias caracterizadas
inicialmente pelo medo doentio de engordar. Muitos são os fatores envolvidos
tanto na etiologia quanto na manutenção e na gravidade dessas doenças,
principalmente fatores individuais, familiares e culturais. A busca
constante por um padrão estético
globalizado já ditado pela a mídia (Magreza), segundo a literatura, tem um
papel central no aumento do número de casos. O corpo se tornou um dos valores
mais importantes no atual momento histórico. A indústria da estética corporal é
hoje um dos maiores mercados da sociedade de consumo (Carreteiro, 2005).
Apesar de ainda desconhecida, sabe-se que a etiologia dos
transtornos alimentares traz em sua gênese uma associação a fatores sociais,
psicológicos e biológicas.
Segundo Cury (2005), esse padrão inatingível de magreza,
amplamente difundido na mídia (televisão, revistas, cinema) e nos desfiles e
comerciais, etc. já penetrou no inconsciente coletivo e aprisionou as pessoas
dentro de si mesmas. Em consequência disso, mais de 98% das mulheres não se
veem bonitas. As mulheres nunca foram tão expostas a ideais estéticos quanto
hoje, era da tecnologia da produção de massa. Desta forma, mulheres passam para
outras mulheres estes mandatos, escravizando-as e colocando-as em padrões
rígidos (Serra, 2001).
Henri Wallon foi um importante teórico que se preocupou com
a construção de saberes a partir do seu objeto de estudo, o desenvolvimento
humano. A teoria do desenvolvimento de Wallon é centrada na psicogênese da
pessoa, ou seja, busca estudar o desenvolvimento do ser humano a partir de uma
perspectiva genética pelo viés de uma análise comparativa.
Wallon traz vários estágios de desenvolvimento, mas somente
a partir do personalismo (03 à 06 anos) a criança começa a ver que não é igual
a todos, tomando conhecimento de si e começa a construir sua personalidade a
partir de uma visão do "eu".
Para Wallon outro estágio importante é a Puberdade e
Adolescência, que inicia aos 11-12 e com ela há o surgimento da chamada crise
da puberdade, que afeta as dimensões cognitiva, afetivas e motoras do
indivíduo. Consequentemente acontecem mudanças profundas tanto físicas quanto
psíquicas.
Wallon afirma, “O jovem expressa seus sentimentos com o
corpo todo. Mímicas, gesticulações exageradas tornam-se bastante frequentes,
traduzindo a falta de habilidade para dominar todo o potencial de que o novo
corpo é capaz, e orientam também seu comportamento exterior. De modo geral é
por meio de brincadeiras, risadas, conversas em tom de voz elevado e muita
movimentação que o jovem expressa o prazer em estar realizando determinadas
atividades." Sendo assim, muitos quando não se encontram dentro dos
padrões ditados pela sociedade, fazem de tudo sem se importar com saúde para
chegar ao tão sonhado padrão.
Em uma pesquisa feita com estudantes no estado de Minas
Gerais mostra que em relação a idade o pico de prevalência entre os escolares
com escore correspondente a algum grau
de desordem alimentar ficou na faixa etária de 11 - 16 anos (adolescência
precoce e início da média), que mostra uma maior predominância entre
adolescentes.
Dessa forma a psicogenética de Wallon ajuda a compreender o
desenvolvimento humano em cada fase.O desafio para aqueles que trabalham tanto
na clínica como na pesquisa destes transtornos não é simplesmente descrever
todos os elementos envolvidos, mas, sim, o de compreender como diversos fatores
interagem entre si em cada caso ou situação. Assim o profissional irá auxiliar a criança na busca do equilíbrio
de suas emoções, mudando os comportamentos, focando também em questões de
autoestima, o que o levará ao desenvolvimento de uma relação adequada com a
alimentação.
Integrantes
Alda Letícia de Souza Andrade
Amauri plácido da Silva Neto
Beatriz dos Anjos Dias
Luamar da Silva Biquiba Guarani
Joquebede de Queiroz Santana
Roney da Silva Arrais
Acadêmicos do segundo período de Psicologia UNIVASF - 2018.1
Referências
Referências
Cury, A. J. (2005). A ditadura da beleza e a revolução das mulheres. Rio de Janeiro : Sextante.
Fernandes, A. E. R. (2007). Avaliação da imagem corporal, hábitos de vida e alimentares em crianças e adolescentes de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado não publicada. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG.
Fiates, G. M. R. & Salles, R. K. (2001). Fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares: Um estudo em universitárias. Revista de Nutrição, 14, 1-8.
Morgan, C. M., Vecchiatti, I. R. & Negrão, A. B. (2002). Etiologia dos transtornos alimentares: Aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais. Revista Brasileira de Psiquiatria, 24(3), 18-23.
Serra, G. M. A. (2001). Saúde e nutrição na adolescência: O discurso sobre dietas na Revista Capricho. Dissertação de Mestrado não publicada. Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, RJ.
Carreteiro, T. A. (2005). Corpo e contemporaneidade. Psicologia em Revista, 11(17), 62-76.
ABI BASTOS, LCS Dér. Henri Wallon: psicologia e educação, 2000.
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